MEUS
DOIS GRANDES TIOS
Estamos
em Bali, é tempo de plenilúnio, a bela dama prateada
envolve com sua luminosidade o nosso GUARDIAN, que mais belo ainda
se torna.
Aproveitando
este ambiente e o quieto momento que a noite encerra. Na Marina
de Bali, são cerca de 11 horas da noite, no sentir a carícia
de um ameno vento sorvendo um suave “Lacrima Christi”,
nos debruçamos pelas janelas do passado e volvemos as lembranças
a duas estrelinhas , meus tios Sílvio e Machado.
Tio
Sílvio ainda convivemos com ele até aos meus 16 anos, se
a memória não me faz um falsete, já Tio Machado,
não o conhecemos pessoalmente , contudo através e
muito de suas historias relatadas no seio familiar e sobretudo através
de sua obra, escritos e o enorme legado cultural deixado ao povo
brasileiro.
Tio Sílvio irmão de minha avó Laura, era uma figura
impar, ao seu redor gravitavam histórias fantásticas que
o colocavam no pilar dos gênios, o que podemos atestar, ainda
que pouco tempo tivéssemos convivido com esta figura extraordinária.
Dentre
as histórias, sobre sua pessoa, há duas que até hoje
nos causam muita espécie. A primeira que até aos 5
anos não dizia palavra.
Minha
bisavó Sara, Vovó Sara, como chamávamos, tinha
feito de tudo para saber de tão estranho fato, os médicos
todos consultados, exames realizados para detectar sua afonia e
sempre a resposta encontrada era a mesma..
―
Dona Sara, seu filho Silvio é perfeitamente normal, para nós é um
estranho caso esta sua afonia!!!
Isto
estamos falando por volta do ano 1900, o inicio do século.
Eis
que num domingo quando todos reunidos na Chácara da Família
em São Cristóvão, no Rio de Janeiro, a criada
se aproxima de Vovó Sara, meio perplexa.
―
Dona Sara... Dona
Sara... O Sílvio está falando!!!
Aquilo
era uma grande novidade e minha avó perguntava como havia
acontecido.
―
Estava passando
junto ao quarto dele quando ouvi vozes e fui ver, em lá chegando ele
estava falando sozinho com seus brinquedos, ele não me viu, e assim
vir ter com a senhora.
Vovó
Sara muito sagaz, calmamente se dirigiu ao quarto do menino Sílvio
e por trás da fresta da porta o viu distraidamente falando
com seus brinquedos. Adentrou ao aposento e pegou o filho falando.
―
Sílvio você fala, e pelo visto há muito tempo e perfeitamente!!!!!!!!
―
Porque nunca falou conosco antes, nem papai nem mamãe????
Isto
ele já com 5 anos, ou seja já falando perfeitamente
sem o tatibitati dos 3 primeiros anos de vida de qualquer criança.
E
a resposta de Tio Sílvio foi notável e lapidar:
―
Ora Mamãe, porque
não quis, vocês adultos não deixam espaços para nos crianças
falarmos!!!!
Imaginem
o Tio Sílvio hoje com as TV, novelas, Show do Milhão e Big Brothers, ai
é que ia ficar mudo a vida inteira!!!!!
Com
este fato em seus primeiros anos de vida, já se podia ter
uma idéia de quem seria o gênio Sílvio Braga e Costa
nos tempos futuros .
Naquela
época, era costume as crianças estudarem em casa e
aquilo que chamaríamos posteriormente de primário...
e ingressarem no Liceu, já para cursarem o então Ginásio.
O
menino Sílvio, na fase preliminar em casa se revelara, um fato atípico,
aprendera as classes normais de português, matemática, geografia e historia rapidamente e ainda encontrara tempo para
se dedicar aos estudos de francês, alemão e inglês,
os quais falava perfeita e correntemente.
Ao
entrar no Liceu, ocorreu um fato notável que acabou por qualificá-lo
como realmente um gênio!!!!!!
Estava
na classe de matemática e o professor colocou na pedra um
problema de aritmética daqueles que chamávamos em
nosso tempo de “borboletas” e outros, cabeludíssimos....
Tio
Sílvio como sempre achando aquilo uma chatice pois aprendera muito
mais da forma autodidata.. aliás como sempre foi seu feitio, conhecido
por todos nos na família.
Na
época a palmada comia solta, nas mãos dos alunos
e o professor não iría perder a oportunidade de punir o menino
Sílvio por sua desatenção, que ledo engano!!!!
―
Sílvio, pelo
visto você já sabe responder a este problema, pois não esta muito
interessado nele. Apôs o mestre.
―
É
que já sei isto!!!! Respondeu o menino.
―
Ótimo então nos
de a resposta!!
E o menino não conversou. A resposta
é tanto!!!!!!
Aquilo
fora um desastre o professor atônito, desconfiou que ele tivesse
visto a resposta antes e propôs outro problema e o menino
Sílvio, olhava pensava uns minutos e dava a resposta correta, sem
uso de papel ou lápis.
E os problemas foram se sucedendo e cada vez mais o mestre iría
se convencendo da genialidade do menino.
Tio
Sílvio, como colocamos acima, tivemos pouco contato com ele, morava
em Niterói, lá para os lados do Cubango, numa bela
chácara com todos os tipos de livros e seus estudos.
Nós
vivíamos na Tijuca, na época um pouco longe, e por
vezes ele aparecia aos domingos para nos visitar.
Sua
figura sempre nos impressionara muito. Alto com cerca de quase 2
metros, muito forte, aquele armário!!!!!! Tinha uma longa
barba, que segundo os parentes afirmavam nunca cortara desde que
apareceram os primeiros fios.
Sua
roupa e sapatos eram sempre os mesmos, um terno preto, uma camisa
branca e uma gravata preta, usava seus óculos de graus meio
ovalóides que escondiam um poucos seus grandes olhos azuis. Seus
cabelos lisos, muito lisos pendiam de forma solta e aparentemente
desalinhados, que vez por outra eram arrumados por seus longos e
grandes dedos, como se fora um pente.
Sua
bela imagem sempre nos chamou muita a atenção, e sua
barba era a sua marca registrada, já grisalha, que dava um
toque de austeridade a sua grande presença.
Sempre
fora um pesquisador, e astuto conhecedor da mente humana, se formara
em Medicina e claro com a facilidade de sua genialidade era o expoente
de sua turma, onde outros casos fantásticos ocorreram durante
sua graduação, que povoavam as historias da Faculdade
de Medicina.
Com
sua personalidade enveredou pelo estudo da homeopatia e nela encontrou
um vasto campo para sua pesquisa e desenvolvimento que hoje muito
se deve a seus estudos.
Foi
professor do Instituto de Educação, onde segundo consta
andou balançando os corações de muitas normalistas.
Sim, pois ele sempre fora muito chegado ao belo sexo, dito frágil,
que na época já averbava de frágil não
ter nada.
Ficou
viúvo muito jovem, esta talvez seja uma das possíveis razoes
de seu retraimento. Tinha 3 filhas e um rapaz que conhecemos bem
e que grande apreço temos até hoje, as primas Emília, Lúcia e Lívia e o primo Otávio. Todos sem exceção
guardam em alguns aspectos as potencialidades do pai.
Casou-se
muito tempo depois, e teve outros filhos, a Rosa muito bela guardava
seus mesmos belos olhos azuis, a Ana que herdou do pai a fantástica
inteligência e o Henrique Otávio, hoje um renomado pintor.
Tio
Sílvio dentre outras de suas inúmeras características
e qualidades era um extraordinário pintor, tanto no óleo
como na aguada.
Quando
mais de idade, por vezes fomos sozinho visitar o velho Tio, já
na época acredito com seus 60 e tantos anos, lá em
Niterói, onde ele nos dava lições de geologia
e por vezes até de bilhar francês, numa belíssima
mesa de seu escritório, que veio acabar sendo prateleira
de seus milhares de livros.
Até
que um dia recebemos a noticia que nosso Tio estaria falecendo,
até em seu passar ele seria diferente, produzira um remédio
para matar ratos e distraidamente adormecera no local onde havia
aposto o dito cujo, e quando acordou se apercebera do erro cometido.
Chamou
a todos e disse textualmente, claro como era de seu jeitão:
―
Bem, daqui a
pouco estarei morrendo e assim estas são as minhas vontades!!!!
E
assim virou estrelinha nosso Tio Sílvio, que é uma das luzes
que sem dúvida alguma orientam os caminhos do GUARDIAN.
Um
homem totalmente fora de seu tempo, que com sua genialidade, até
hoje nós, seus parentes, nos lembramos dele, de suas historias e
fatos inacreditáveis.
Um
homem ao qual seu semelhante sente muita honra de tê-lo não
só o conhecido, mas sobretudo de ter a incomensurável
honra de chamar TIO!!!!!
O
meu outro Tio, bem este é muito famoso, não o conheci
já que ele é meu Tio Trisavô, porém fomos conhecê-lo
através de suas obras e seus escritos, e mais ainda sobre
as histórias sobre ele contadas na intimidade da família
isto desde menino.
Muito
poucos amigos e colegas sabem de tal fato, pois sempre guardamos
como certo segredo para não querermos aparecer ser sabichão, coisa que guardamos certa distância e nossos mais chegados sabem
de nossa maneira de ser, que entretanto as mentes invejosas de plantão
não assim o pensam.
Além
disto ainda guardamos da infância um certo trauma por termos
uma vez no primário colocado este fato numa classe de Português
e por tal termos sido durante algum tempo ridicularizados.
Estudávamos
no 4 ° ano primário, num Colégio a época famoso
na Rua Conde de Bonfim, que levava o nome de sua proprietária.
Numa
destas classes de Português falava-se sobre Machado de Assis.
Quando cai na asneira de nomeá-lo como meu tio, que lemos seus livros
no original, sua biblioteca toda estava em minha casa, etc...
Foi o suficiente para o abestado do mestre me colocasse em ridículo
perante a turma.
Nós
que sempre gostamos muito de nossa língua passamos de imediato
a termos aversão a seu estudo. Fato em casa notado, obviamente
o que ensejou narramos o ocorrido na escola.
Minha
avó Laura, coisa que não fazia muito seu feitio, foi
pessoalmente ao Colégio, com o testamento original do próprio
punho de Tio Machado e mais alguns outros e relatar a proprietária
e diretora do Colégio o ocorrido.
Surpresa
para nós quando na classe de Português entra a diretora acompanhada
de minha avó. Pedindo licença ao professor, a diretora
apresenta ao professor e a turma Dona Laura avó do aluno
João Francisco, sobrinha neta de Machado de Assis e sua herdeira
universal, pasmos ficaram todos e muito mais o abestado do mestre
quando viram que o João Francisco não estivera a mentir.
Tal
acontecimento nos fez para toda nossa vida guardarmos reserva sobre
este fato, só aqueles muito chegados a família e que
tem conhecimento.
Nossa
juventude se houve convivendo com o acervo de Tio Machado, não
só o literário mas também o mobiliário,
móveis, quadros e peças decorativas de sua mansão no Cosme
Velho.
Travamos
conhecimento desde menino, com as historias, fatos e a vida de Tio
Machado na intimidade, coisas que muitos acadêmicos nem de
longe tem a mínima idéia.
Quando
em 2001 após 5 anos ausentes do Brasil, retornamos para participarmos
do Rio Boat Show e outras atividades, estávamos em casa de
nossa Tia Ruth, hoje aquela que com minha Irmã Maria Thereza, detém
os maiores conhecimentos sobre as histórias de Machado de Assis
na intimidade.
E
a família resolveu vender o túmulo dele no Cemitério
São João Batista, pois já temos nosso jazigo
perpétuo no Cemitério do Caju e o de Tio Machado nenhum parente
falecido ocupara, a lapide e ornamentos foram doados para a Academia
Brasileira de letras, por nós da família, onde hoje se encontram
e nada mais restava no jazigo.
Pois
bem, foi um alvoroço, loucura, pandemônio, a imprensa
caiu de pau, e o telefone da querida Tia Moicana, como carinhosamente
a chamamos, com mais de 88 anos não parava.
O
pensamento obtuso era sempre o mesmo:
Como
se desfazer da relíquia do maior escritor brasileiro?????
Que
relíquia, se lá não se encontrava mais nada!!!!!
Na
verdade a Grandiosa Santa Casa da Misericórdia, um feudo
de gatunagem, comandada por uma apedeuta milionário as custas
da instituirão, viera de publico alardear ser patrimônio
da ordem e coisas do tal tipo.
O
que muita gente desconhece é que a ordem, ofereceu cerca
de R$ 40.000,00 pelo jazigo enquanto no mercado seria vendido a pelo
menos o dobro e já tínhamos comprador!!!!!
Isto
é o que o Senhor Zarur, faz na Santa Casa da Misericórdia,
que de misericórdia não tem é nada, e as custas
das tretas e tirinetas desta ordem, se tornou um proeminente homem
de negócios com mansões em ilhas em Angra dos Reis
e outros imóveis, que se forem levantados devidamente pelo
fisco, muita surpresa haverão de ter.
O
monopólio dos papas-defuntos de uma ordem que de misericórdia
não tem é nada e quanto mais de santa!!!!
Assim, e desta feita pela primeira vez, damos a conhecer deste honroso
aspecto familiar para os demais amigos.
Recentemente
tivemos o prazer de apresentar nosso amigo ÁGUIA REAL, a nossa querida
Tia Ruth, a Tia Moicana, onde, numa agradável tarde do mês
de abril, este irmão colheu em uma entrevista as histórias
fantásticas de Tio Machado e Tia Carolina na intimidade da
família, subsídios para uma matéria que está
por fazer.
Um
dos aspectos que sempre nos chamou a atenção sobre
a biografia do erudito Tio, é que nunca seus biógrafos,
atentaram um pequeno e sutil detalhe para seu mais notável
romance, em nossa opinião.
" Memórias
Póstumas de Brás Cubas”
Imaginem
na época, um escritor apresentar seu romance do fim para
o inicio, que já serviu de exemplo para inúmeros filmes,
peças de teatro, escritos e outros. E em suas biografias nenhum
autor o fez da mesma forma. É sempre a mesma coisa...
O
menino pobre do morro que, estudou cresceu, bla, bla, bla, por
vezes até apresentam fatos afastados da verdade e muitas
vezes distorcidos, de ele ter amores camuflados e outros. Só
quem não conhecia mesmo Machado de Assis é que poderia
escrever tal idiossincrasia!!!!!
Nunca
houve uma biografia que tenha conhecimento, que seguisse o seu tema
favorito, fazer a sua biografia a partir de sua morte, até
o inicio de sua vida. Enfatizando mais suas obras, seu período
áureo, sua total doação as letras do pais de
seus incríveis, notáveis e espetaculares romances.
Esta
sim, seria a verdadeira biografia Machadiana, dentro de sua forma
de pensar e semântica.
Quantos
poemas, escritos sob pseudônimo e histórias, tivemos conhecimento,
deste grandioso Tio e que em muito nos tem servido de inspiração
quando redigimos nossos escritos sobre a viagem do GUARDIAN.
Assim,
hoje prestamos nossa homenagem a estes dois Tios, pois de uma forma
ou de outra, através de suas histórias em família
acabaram por contribuir cada qual com parcela de suas personalidades
em nossa vida, Tio Sílvio face a sua atipicidade nos lançou
a vida de cruzeiro a vela pelo mundo, que muitos ainda acham coisa
estapafúrdia e de maluco, e Tio Machado, por nos ter incentivado
a escrever estas fantásticas aventuras, vividas de forma
ampla pelos oceanos do mundo.
E
a dama prateada vai terminando o seu reinado, quando damos conta
dos primeiros raios do nascer de um novo dia. Mais um dia a ser
vivido no GUARDIAN onde nos calmos momentos vividos em uma noite
no oriente passeamos com muito afeto e saudades dos tempos em que
vivíamos mais intensamente nossos Tios Silvio e Machado de
Assis.
João
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