Chá
de Cruzeirista
Agosto de 2003, já estamos há quase 2 meses ancorados
em Langkawi, em frente a cidade de Kuah.
E,
o ano passa rápido, ainda ontem estávamos comemorando
sua passagem, o reveillon, em Phuket, na Tailandia, e o GUARDIAN
no Estaleiro Ratanachay. Agora só restam 3 meses e poucos
dias para adentramos a 2004.
Como
sempre afirmamos, quando se faz o que se gosta e se sente feliz,
o tempo corre, voa e nem nos apercebemos. Ao contrario, problemas,
rotinas, aborrecimentos e tristezas, seu passar e moroso, devagar,
inexoravelmente lento.
Todavia,
como passa rápido, as aventuras se sucedem e os fatos passam
também a serem rápidos, que mal temos tido tempo de
escrevermos sobre eles. São tantas as situações,
os momentos, que nos vimos envolvidos num redemoinho de atividades.
Foi
justamente um destes acontecimentos, ocorridos no inicio deste mês,
que nos causou tão boa e grande impressão, que resolvemos
distingüi-lo transformando em um texto das 5as feiras, de nosso
GRUPO GUARDIANBOAT.
Fomos
convidados a participar de um CHÁ DE CRUZEIRISTAS, se assim
pudermos chamar, ou dizermos que este é o nome. Entretanto,
como há Chá de Panela, de Boneca, e de Casa Nova,
acredito possamos assim alcunhá-lo.
Na
verdade o elemento gerador do encontro e seu convite para dele participarmos,
tem sua origem numa historia muito interessante ocorrida há
cerca de 15 anos, cujo protagonista é um casal francês.
Lá
pela década de 80, resolveram partir para viver a bordo de
um veleiro. E, assim decidido, assim aconteceu!!!!!
Ele artista plástico, dos muitos que tem seu atelier em Quartier
Latin, onde com alguma sorte, ou se vende sua arte para algum turista,
ou então para sobreviver, entrega a um atravessador de arte
que na verdade ganha a parte do leão.
Ela
excelente patissere, fazendo suas massas e pães, atendendo
os pedidos de sua clientela.
Neste
vai e vem do dia a dia, como muita rotina e pouco o aproveitar da
vida, nasce um filho.
Foi
quando, tiveram a idéia de viver pelo mundo num veleiro,
ofertando ao menino e a si próprios, uma nova condição
de vida, em contato intimo com a natureza. Só havia um “pequeno”
óbice a ser vencido, nunca haviam sequer estado num veleiro,
ou mesmo detinham qualquer conhecimento sobre vela ou velejar.
Porem,
meteram mãos a obra!!! A idéia!!!! Ao sonho!!!! Ao
futuro!!!!!
Começaram
por ver no circulo de suas amizades, quem conhecia do assunto. Colhiam
informações, visitavam Marinas, vendedores de veleiros,
liam as revistas náuticas, e acabaram por ter a terrível
realidade conhecida, não teriam o numerário suficiente
para adquirir o sonhado veleiro.
Foi
quando tiveram a informação de que um veleiro de ferro
cimento, saia muito barato e na Nova Zelândia haviam já
estaleiros dominando industrialmente tal técnica construtiva.
Após contatos mantidos com o estaleiro em Auckland, recebiam
todas as informações e o mais importante que dispunham
da quantia para levar a termo a construção do veleiro.
Venderam
tudo que tinham, se despediram dos amigos e partiram para Nova Zelândia,
rumo ao sonho!!!!!!!!!!
Lá
escolheram como modelo, um veleiro Sparkman Stevens de 45 pés,
e o trabalho teve seu inicio.
Ao
final de 18 meses, tinham o veleiro flutuando e velejando, só
faltando alguns elementos internos e o motor.
As
pinturas e esculturas eram bem aceitas no mercado de arte local
e a patisserie da esposa da mesma forma, desta arte puderam sobreviver
e o menino ainda tinha escola gratuita.
Os
problemas relativos a estada no pais começaram a se agravar,
e ainda sobrepunha-se um fato complicador para os cidadãos
franceses, seu pais e os próprios, não eram bem vistos
na Nova Zelândia, após um comando francês ter
explodido um navio do Green Peace na baia de Auckland, gerando uma
desconfortável ação para a comunidade internacional,
que contudo e como sempre, não deu em nada. Porém, os cidadãos
franceses pagavam na pele a ação de seu governo.
Assim
o casal não teve jeito, resolveram partir e ir equipando
o veleiro com o tempo e com o arrecadado na pintura e patisserie.
Vendendo
sua arte, suas massas e pães, caíram no mundo e o
Oceano pacifico fora seu quintal por muitos anos. Viviam felizes
e na medida do possível iam colocando sempre alguma coisa
no veleiro.
O
importante, e lema maior, era o viver e aproveitar a vida em toda
sua plenitude. Abdicaram de confortos da cidade e outros vícios,
vivendo a natureza e a aventura.
Infelizmente
por não terem como comprovar seus rendimentos, não
foi possível estarem na Austrália, e costeando este
pais demandaram para Papua Nova Guiné e depois Indonésia,
Singapura e Malásia.
O
veleiro chega a Langkawi, e sua historia é de imediato conhecida
por todos os cruzeiristas no local. Os franceses, seus patrícios,
estão sempre levando algo a eles e comprando as massas da
“padaria a vela”. Entretanto, o mercado de arte e patisserie
em Langkawi não é dos melhores.
Assim,
surge a idéia de se promover um CHÁ , e todos os veleiros
ancorados em Kuah convidados a participarem, cada qual levando algo,
principalmente para equipar o veleiro.
E
lá vai a tripulação do GUARDIAN para o Restaurante
THE PIER, onde acontecerá o CHÁ.
Nossa
oferta é um inverter de 550 watts, algumas capas e sacos
de vela, interruptores e papel de desenho para aguadas, como se
chama por estes lados, water color paper, nome comprido e a grana
também, pois é muito caro, principalmente este nosso
que é holandês. Na verdade, para nós não custou
nada, quando estávamos em Fiji, no Porto de Suva, que como
Langkawi é Porto Livre, encontramos no lixo do porto varias
caixas com este papel, centenas de blocos, ainda intactos, perguntamos
se podiam ser apanhados e até nos agradeciam que o fizéssemos,
e enchemos o GUARDIAN destes blocos de 10 folhas cada. E, vendemos
muitos fazendo um reforço no “caixa”, além de
fazermos nossas aguadas e agora ofertarmos ao artista.
Nem precisa ser colocado que ele caiu do céu !!!!!!!!!!
O
CHÁ muito concorrido, todos os veleiros lá, e ainda
outros que vieram da Marina de Rebak. Aconteceu de ter gente que
deu mesmo foi grana, mais fácil e mais rápido, além
de ter seu emprego imediato.
Cada
participante recebeu do casal uma bela serigrafia, datada e assinada,
como lembrança da reunião e ainda ouviu divertidas
e interessantes historias e estórias, como coloca de forma
correta nosso bom irmão MAGA.
Um
chá bem gostoso, acompanhado de brioshes e outros, e a patisserie
é realmente muito boa.
Os
relatos foram notáveis, tais como:
Como entrar nos portos sem motor
Arranjar um reboque para estar no pier
Marinas só conhecendo de longe
Nunca entrar a noite em ancoragens ou portos
A
ancora é totalmente inadequada para o veleiro, pois sendo
de ferro cimento, muito pesado, necessita uma especial que custa
caríssimo, desta forma utilizam 3 ancoras das normais, tipo CQR, e tudo
é feito no braço pois não há
condições de ter um puxador de ancora mecânico
ou elétrico. Mas como eles dizem sempre, ainda terão!!!!!!!!!!
Vivendo
de pães e artes, vendidos quando é possível,
vão cruzando a sua maneira o mundo. O menino, hoje já
um homem, o faz tudo a bordo, e lá se vão felizes,
nem um pouco preocupados com o amanha. Viver o “hoje”
e intensamente é o compromisso maior, e como colocam até
de forma simpática:
―
O hoje é uma dádiva, uma oferta especial de DEUS aos homens
e por tal se chama “presente” !!!!
E,
ficamos pensando na infinidade de brasileiros que tem o mesmo sonho.
Uns,
como o nosso caso, trabalham a vida inteira para partirem em seu
cruzeiro após aposentados, isto por total falta de informação
e ainda tendo que ver sua aposentadoria minimizada para o pagamento
dos meninos levados da corte e seus polpudos salários.
Saímos
atrasados, mas saímos, e hoje já há cerca de
7 anos em cruzeiro vimos que nada é tão complicado como antes
pensávamos e mais que tudo, ganhamos um novo tempo jamais esquecido,
como colocamos, um tempo em que todos os dias são feriados!!!!!!
Outros,
sempre aguardando... aguardando... aguardando...!!!!!!
Há
ainda aqueles que apregoam aos 4 ventos que estão se preparando
para fazê-lo, para aparecerem e posarem como grandes personalidades.
E,
há aqueles que nada dizem e de repente estão colhendo o seu sonho e
a alegria passa a ser a constante em suas vidas, vivem o tal
“presente” de DEUS!!!!!!!
E
hoje, muitos brasileiros estão partindo, e nos sentimos em
parte responsáveis por este incentivo, pois desde o início
de nossa viagem que temos procurado sempre em nossos textos, livros,
matérias publicadas em jornais e revistas, palestras e entrevistas,
mostrar que a coisa é bem simples, fácil e os aspectos
negativos são tão poucos que não se perde tempo
em comentá-los .
Até hoje, já passados mais de 2 anos, ainda recebemos
mensagens de amigos novos que se incentivaram e se preparam, após
assistir nossa entrevista no Programa do Jô, em junho de 2001. Aqui
mesmo em nosso GRUPO temos como exemplo nosso estimado irmão
Eron Pessanha.
E,
ainda haverá de chegar o dia que a Majestosa e Bela Bandeira
do Brasil, estará cruzando os oceanos nas popas do veleiros
de cruzeiro brasileiros!!!!!
É,
obvio, bandeiras feitas pela BANDERART, a fornecedora oficial das
Bandeiras que o GUARDIAN usa e ainda deixa de lembrança na
sua esteira pelos portos e ancoragens pelo mundo. Isto devido ao
trabalho e interveniência no processo, de nosso super mano MAGA.
Assim, vimos, conhecemos e convivemos com verdadeiros cruzeiristas,
autênticos vendedores de esperança, um exemplo de animo,
determinação e raça para muitos.
E,
lá se vão eles, com risos, decepções
e proibições, mas sempre com muita alegria. Fazem
o que gostam, vivem como gostam e por tal gostam de todos, e há
pessoas que se surpreendem por isto!!!!!!!!!!
Ao
deixarem Kuah, rumo a Ao Chalong, em Phuket, na Tailandia, nos ofertaram
uma belíssima aguada do GUARDIAN, e no verso uma lembrança:
―
Jean, seu papel de aquarela será nossa alimentação e ganho pelo
menos por uns 6 anos. Merci beaucoup,
Sika
Kuah, Langkawi, Agosto de 03
Que
fique o incentivo e exemplo, para tantos e quantos irmãos
do GRUPO GUARDIANBOAT sonham com o mesmo Projeto de Vida!!!!!!!!!
João
Sombra
Agosto de 2003
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