Os Rebeldes de Guadacanal
[Matéria publicada na Revista Turismo]
Fomos deixando a nossa
popa as últimas ilhas de Torres, pertencentes a Vanuatu, numa tarde
calma de ventos amenos e mar tranqüilo, o coroar de uma estada
em um local de rara beleza.
Adentrávamos agora as ILHAS SALOMÃO, outro local fantástico
e de incríveis descobertas. Palco e cenário das mais
terríveis batalhas da 2 a grande guerra no Pacífico Sul, onde
os vestígios estão espalhados em todos os locais como
testemunho das loucuras que o homem pode fazer contra seu semelhante.
Navegávamos por águas onde jamais um veleiro brasileiro
estivesse estado anteriormente, e locais até mesmo onde o Brasil
era conhecido e tão somente por seu alegre futebol, o que
faz em SALOMÃO o brasileiro ser tratado de forma diferenciada e
como um querido visitante.
Nossa chegada se deu ao sul deste grande arquipélago país
melanésio e nossa primeira parada foi na Ilha de UTOPUA,
onde travamos conhecimento com os terríveis crocodilos de
água salgada, que na temporada de 98, encerraram o navegar
de um veleiro suíço, abocanhando seu capitão.
De UTOPUA rumamos para a ilha NENDO, onde fizemos os nossos documentos
de entrada no pais legalmente. Na cidade de LATA a chegada dos brasileiros
foi motivo de festa, repleta de encontros fantásticos e inesquecíveis.
Os brasileiros em Lata!!!!!!!!!!
Em LATA recebêramos as informações de que havia
uma guerra particular ao norte, na grande Ilha de GUADALCANAL e
que nos afastássemos de seu litoral, onde os rebeldes de
MALAITA estavam detendo os veleiros para utilizar sua liberação
com barganhas ao governo constituído. Recentemente, um veleiro
francês havia tido este contratempo.
Na Ilha de NENDO, fizemos nosso primeiro mergulho em um naufrágio
de guerra, numa profundidade de 5 a 6 metros exploramos um avião
ZERO japonês, ainda intacto e no cockpit ainda havia os ossos
e restos da roupa do piloto japonês.
Incrível foi ver os instrumentos, a bússola ainda
se encontra em perfeitas condições, isto já
passados mais de 50 anos.
É proibido tirar qualquer objeto dos naufrágios e
os mergulhadores locais, disfarçadamente, prestam atenção
a este fato, pois segundo as lendas e historias, traz muita ma sorte
e desgraças para o povo local.
O fato é que ficamos impressionados com o número de naufrágios
de aviões, navios, lanchas, etc. . em SALOMÃO. Algo incrível,
extraordinário e diria até único em todo o mundo.
Outro aspecto que nos causou muita espécie é o grande
numero de tubarões do tipo "Bull Shark" ao redor
dos naufrágios. Estes tubarões são muitos agressivos
e do tipo troncudo, de imediato nos traz a idéia de que fizeram
musculação ou tomaram destas pílulas modernas
que fazem a explosão muscular.
Continuamos fazendo nossos mergulhos ate a Ilha de SÃO CRISTOVÃO.
Quando, então, rumaríamos para HONIARA, a capital
do país na grande Ilha de GUADALCANAL.
Cabe aqui um pouco de historia:
As Ilhas SALOMÃO foram descobertas pelos espanhóis na expedição
comandada por ALVARO MENDANA, por volta de 1600. Atrocidades, assassinatos
em massa das populações locais são as marcas
da chegada dos espanhóis, que acreditavam estar nas ilhas
o tesouro do REI SALOMÃO. E os inocentes locais, que não
sabiam nem quem fora o REI SALOMÃO, pagaram com a vida a fantasia
criada pelos invasores. que pensavam estar os locais ocultando tal
segredo.
Duzentos anos se passaram sem que ninguém mais estivesse
em SALOMÃO, apos à desistência espanhola, face ao não
encontrar o dito tesouro e a malaria quase os eliminando.
Chegavam, agora, os modernos exploradores europeus, e os ingleses
em acertos e barganhas com os franceses acabaram tendo as Ilhas
SALOMÃO como sua colônia.
Isto ate a 2a grande guerra, quando os japoneses dominaram quase
todo o sul do Pacifico oriental, se preparando a ocupação
da Austrália e da Nova Zelândia.
O fato é, que ao velejarmos as Ilhas SALOMÃO, encontrávamos
lendas, historias e relatos desde a época dos espanhóis
ate a grande guerra e ficávamos com a certeza de terem sido
sempre os heróis e vencedores o povo de SALOMÃO.
Novamente em SÃO CRISTOVÃO, em KIRA-KIRA, onde fomos homenageados
por inesquecível festa, tornaram a nos avisar que nos afastássemos
do litoral de GUADALCANAL, face à existência dos rebeldes.
Numa bela manha, demandamos a HONIARA. Inicialmente, íamos
afastados das ilhas e no meio do grande mar entre elas. E já
estávamos nas águas de GUADALCANAL, uma ilha de estupenda
e indescritível beleza, que a mente humana maculou. Porém,
a natureza cuidou de fechar as feridas, deixando a mostra, entretanto,
os vestígios da desgraça.
Um paraíso, local fantástico de águas cristais
e transparentes, onde ao se mergulhar a sensação e
de estar flutuando no espaço.
Pela manhã, o vento "Terral" ficava até às 10 horas
junto ao litoral e depois uma leve brisa vinha para o grande mar.
Neste tempo era calmaria até a chegada da brisa, e acabamos por
resolver velejar junto ao litoral, onde tinha um gostoso vento "Terral",
um visual incrivelmente belo e, claro, os rebeldes. Mas nos estávamos
com o GUARDIAN, que nunca nos deixou em encrenca.
No estai de popa hasteamos a nossa enorme bandeira brasileira, aquele
"lençol", dizíamos ser o nosso salvo-conduto,
para os rebeldes em tempo de lutas intestinas e étnicas locais.
Isto o fizemos ao amanhecer, por volta das 6 horas da manhã.
A velejada com o vento "Terral" era tudo que desejávamos,
fantástica e as ilhotas, enseadas, praias de alvas areias,
eram uma dádiva aos nossos olhos, cada visualizada se transformava,
de imediato, em um cartão postal.
Não víamos ninguém, nada no litoral, nem as
típicas e pequenas construções, características
e cobertas com palha de coqueiros, nada, éramos os donos
deste lindo sitio e velejávamos envoltos em imagens dignas
do paraíso.
Por volta das 10 horas. com o "Terral" chegando a seu
término e o leste começando a soprar suave, ouvimos tiros
vindos de terra e canoas típicas locais, feitas em fibra
de vidro, com potentes motores de popa, partiram em nossa direção.
A aventura, realmente, iría ter seu início!!!!!!!!!!!
― QUE DIABOS VOCÊS TINHAM QUE DESOBEDECER AS ORIENTAÇÕES?????????????
Não é exatamente isto que os amigos e leitores da
REVISTA TURISMO estão
pensando?????
NÓs também no momento tínhamos a mesma questão em mente!!!! Porém havia um forte argumento a se contrapor, éramos
brasileiros e DEUS também, lógico!!!!!!!!!!!!
A grande bandeira cumprira sua função!!!!!!!!
Eram umas 6 canoas com 5 homens em cada, fortemente armados, fuzis
tipo leves, automáticos, com muita munição,
e a recepção não poderia ser de outra forma.
―
Uau!!!!!!! Brasileiros!!!!!!!! O que e que vocês estão fazendo
junto ao litoral?????
E outro comentava sorrindo:
―
Vocês foram avisados que não velejassem nestas águas
próximas ao litoral!!!!!!!!
É verdade, porém, como somos brasileiros, o primeiro veleiro a navegar
nesta águas ao sul de SALOMÃO e como vocês são
nossos admiradores, está tudo em casa!!!!!!!
Pronto, resolvido o problema, e tome de subir rebelde a bordo do
GUARDIAN, cerveja gelada, samba e, como sempre, as histórias
do RONALDO, ROMÁRIO, ROBERTO CARLOS e cia. Ou seja, o papo sobre
o nosso futebol, o mais querido e admirado do mundo.
Começamos, então, a ouvir as historias e relatos do
outro lado da moeda. Em MALAITA, o povo sendo massacrado, desemprego,
os produtos vendidos com taxação excessiva, perseguições
etc... e as lideranças políticas de GUADALCANAL aumentando
seus salários e ganhos, e a corrupção era
a Tônica.
Para nós do GUARDIAN a maior surpresa. "Nuca havíamos
antes ouvido algo semelhante em nossa vida", principalmente,
nós brasileiros!!!!!!!!!!!!
E o imediato do GUARDIAN, não se contendo, complementou:
― Tem narcotráfico também???????????
O fato é que os rebeldes de MALAITA foram à luta e
partiram para a ação, chamando a atenção
dos ingleses. SALOMÃO, ainda que totalmente um pais independente,
possui entretanto diversas indústrias de origem inglesa e australiana,
que não tem interesse de guerras internas que venham atrapalhar
seus negócios, e acabaram entrando na contenda como mediadores
e pacificadores, todavia ainda não chegara aos finalmente.
Conversas, relatos, fatos e historias deixaram no GUARDIAN uma
imagem diferenciada. Tivemos a permissão para continuar velejando
até HONIARA, costeando a grande ilha, mergulhando, ancorando a
noite e que ninguém iría nos criar problemas.
Os fuzis automáticos leves disparavam para o ar, enquanto
o nome Brasil era em altos e eloqüentes brados reverenciado
pelos rebeldes de GUADALCANAL.
E o GUARDIAN, suave como um belo cisne branco, velejava nas cristais
águas, como se deslizasse numa lâmina de vidro.
Acenos de mãos se juntavam a reflexão sobre o povo
heróico de SALOMÃO, com um terrível carga de lutas
advindas do passado, ainda enfrenta uma luta originária da prática
do progresso e o sempre desmedido desejo de poder e riqueza de algumas
elites dirigentes.
O nosso destino era HONIARA e, posteriormente, o retorno a AUSTRÁLIA,
o próximo tema a ser levado a narração para
os amigos e leitores da REVISTA TURISMO.
Deixamos aqui o forte abraço do GUARDIAN e sua tripulação,
e o convite pra visitarem nossas páginas e acompanharem as suas
aventuras.
www.guardianboat.com.br
www.jb.com.br(seção de esportes)
Adress
para emails;
guardianboat@hotmail. com
OBSERVACAO:
Infelizmente, fotos dos rebeldes não puderam ser feitas,
por motivos óbvios!!!!!
João Sombra
Diretamente do Guardian, para a REVISTA TURISMO.
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