O GUARDIAN NAVEGANDO NO MAR DO SUL DA
CHINA
Rio Chao Phraya
em Bangkok |
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A tripulação do GUARDIAN
se impressiona com a beleza da costa leste da Tailândia e Malásia.
Estamos navegando pelo Mar do Sul da China rumando para o Golfo da
Tailândia, aproados para Bangkok.
Saímos
no final de Julho da Ilha de Langkawi, descendo à costa oeste da
Malásia, contornando Singapura e ganhávamos as maravilhosas
velejadas do Mar do sul da China, onde pela primeira vez um veleiro
brasileiro singrava estas águas.
Uma das notáveis, entre
outras peculiaridades deste local, é exatamente ofertar aos
cruzeiristas duas épocas de velejar durante o ano. De novembro a
maio a costa oeste é o extraordinário cenário das ilhas do Mar de
Andaman, já objeto de matéria nossa anteriormente na Revista
Náutica, e de junho a outubro o navegar pelo Mar do Sul da China.
Descendo a costa leste,
logo ao sul de Langkawi se encontra a ilha de Penang, com sua
fantástica ponte e ofertas de materiais náuticos a muito baixo
custo. Descendo logo após encontramos o porto de Lumut, local onde
se encontra situada a maior base naval da Malásia. Por tal, outro
grande centro náutico, ofertando aos cruzeiristas excelentes
oportunidades de qualquer manutenção necessária.
Dai para o sul, estamos
já navegando pelo famoso Estreito de Malaca, onde em tempos passados
ocorriam casos de pirataria a veleiros, fato totalmente hoje
erradicado, face a uma poderosa força tarefa composta pelos países
da área, Indonésia, Malásia e Singapura.
Começamos a deparar já
com o trafego constante, e numeroso, de navios mercantes.
Entretanto, há alternativas junto as costa, cerca de 5 a 10 milhas
náuticas, para o navegar de embarcações de pequeno porte.
Uma das ancoragens
fatalmente obrigatórias é na histórica cidade de Malaca, que
originou o nome ao Estreito e o berço da colonização européia,
através do navegador português Afonso de Albuquerque. Em Malaca até
hoje há um bairro tipicamente luso, com as tradições portuguesas
cultivadas, inclusive a língua. Ainda que com acentuações
diferenciadas e palavras locais anexadas ao vocabulário, nos
brasileiros entendemos e somos entendidos perfeitamente, sem a
necessidade do uso da tradicional mímica.
De Malaca demandamos a
Singapura, um pequeno pais cuja característica maior é ser a Suíça
da Ásia. E, também, seu segundo maior porto marítimo depois de Hong
Kong. Portal, pode-se ter uma idéia do imenso trafego de navios na
área.
O patrulhamento da área
é diuturno e rigoroso, exercido através de potentes lanchas da
Policia Naval do pais.
Singapura em termos
náuticos é um excelente mercado, por custos muito baixo se encontram
bons materiais náuticos, todavia há necessidade de se conhecer a
priori as lojas e os representantes das grandes empresas de produtos
náuticos internacionais.
Após Singapura,
contorna-se o istmo de Johor, pertencente à Malásia e inicia-se a
navegar pelo Mar do sul da China.
Os ventos dominantes
desta época do ano de junho a outubro vêm do sul, amenos e na faixa
de 15 nós. O mar, sempre muito calmo tem sua ondulação leve,
acompanhando o vento dominante e passa-se a velejar de empopada,
“asa de pombo” ou o “balão”. Tal fator enseja navegadas
inesquecíveis em águas cristalinas e sempre muito descansantes.
A partir de dois dias de
navegação pelo Mar do Sul da China, rumo norte, começam a aparecer
às extraordinárias e belíssimas ilhas, que na parte sul pertencem à
Malásia e na parte norte a Tailândia.
Ilhas que vem crescendo
de forma exacerbada para o turismo, com diversos hotéis por elas
espalhadas e tendo como carro chefe o mergulho autônomo. Todavia,
algumas ainda se encontram muito nativas e pouco exploradas onde a
pratica é a troca e não o uso de qualquer espécie de dinheiro.
Por vezes mergulhávamos
em caça submarina e aparelhados com nossas especiais armas Cobra
ataque, cedidas por nossa patrocinadora a COBRA SUB, em pouco tempo
de mergulho tínhamos o suficiente para levarmos a efeito aquele
saboroso “sashimi” a bordo e ainda trocarmos o pescado em terra com
a população das ilhas. O peixe é tão manso que vem ver o que está
acontecendo na ponta do arpão. Os locais desconhecem a caça
submarina e ficaram impressionados com a rapidez de nossa pescaria.
De ilha em ilha,
velejando durante o dia e dormindo ancorados a noite, íamos vencendo
as 1500 milhas náuticas que separam Langkawi de Bangkok.
Chegávamos à famosa ilha
de Tioman, hoje Porto Livre e por tanto com custos excelentes. A
diversidade de produtos e de turismo alçou esta famosa ilha ao nível
de mais importante polo turístico da Malásia em sua costa leste.
Numa desta ilhas, ainda
na Malásia, Pulau Kapas, que significa Ilha de Algodão, tivemos
novamente a oportunidade de vermos como nosso povo Brasileiro é
querido.
Ao acabarmos de lançar
nossa ancora para pernoite, por volta das 16:00 hs, recebíamos a
visita de um bote inflável. Um malaio e um ocidental acompanhados de
uma bela dama Malaia, que ao repararem na Bandeira do Brasil, à popa
do GUARDIAN, se encontravam exultantes. Pela primeira vez um veleiro
brasileiro ancorava em Pulau Kapas e Yan e Din, estavam
maravilhados. Nos convidaram a irmos a terra conhecer sua base de
mergulho, restaurante e pequenos bangalôs que servem de pousada.
Jantar farto regado a cerveja gelada com todas as mordomias e uma
amizade para sempre feita e jamais esquecida. Os veleiros
brasileiros que por ventura um dia ancorarem em Pulau Kapas, serão o
prolongamento da amizade iniciada nesta nossa ancoragem.
O ultimo porto da
Malásia é em Kota Baru, uma barra de rio, de águas bem turvas e com
bancos de areia semoventes onde a cautela deve ser a máxima.
Papeis feitos e
adentrávamos as águas da Tailândia, com o mesmo prosseguimento das
extraordinárias ilhas, que compõem o maravilhoso Mar do Sul da
China.
Por vezes a água era tão
azul anil, que a coloração do Pacifico nos vinha à lembrança.
A maior das ilhas é Ko
Samui, já uma metrópole turística onde até encontramos um
restaurante, churrascaria brasileira, e tomamos uma caipirinha de
Pitu. Isto do outro lado do mundo, no Zico’s.
Envolvendo Ko Samui uma
quantidade de pequenas ilhas detém bangalôs encrustados em seus
penhascos, que são de inquestionável beleza. E, atualmente, os
europeus com a força do seu “euro” estão a conhecer esta nova
Reviera, principalmente os italianos, em sua grande maioria.
Eram uma seqüência de
pequenas ilhotas de rara beleza, coroadas por lindas parias de areia
branca e rodeadas por águas límpidas e pouco habitar. Estávamos
vivendo o paraíso, onde o silencio era somente quebrado pelo leve
marulho das ondas e os pássaros em seu vozerio do fim de tarde.
Vivíamos dias e tempos
que nos ensejavam calma e tranqüilidade impares, onde o homem ainda
não havia chegado para quebrar tal encanto.
Finalmente adentrávamos
ao sul do Golfo da Tailândia, pela cidade de Pattaya. Nossa
orientação era ancorarmos ao Marina fechada OCEAN MARINE, contudo
seus preços eram exorbitantes, cerca de R$185,00/dia.
Evidente que a ancoragem
continuava a ser a nossa tônica. E, encontrávamos uma excelente
cerca de Pattaya, onde nosso pernoite se houve de forma plena.
Por vezes haviam
navegadas de 48 horas ou mesmo 72 direto, que se passavam de forma
pouco notada. A ansiedade de conhecermos o próximo local fazia que
nem percebêssemos o passar do tempo. O velho dito que quando se faz
o que se gosta o tempo é célere.
Pattaya uma cidade bem
ao sul de Bangkok, distante cerca de 4 horas de automóvel, teve seu
crescimento durante o período da guerra do Vietnã. Os soldados
americanos de licença para lá se dirigiam a fim de conhecerem as
belas e cativantes damas tailandesas e o desenvolver do comercio do
amor se tornou a tônica maior do local, que foi crescendo e hoje é
algo inusitado e surpreendente, conhecida como a cidade do “pecado”
em todo o mundo. Alias de pecado não vimos nada, pelo contrario a
simpatia e o alegre conviver com as damas tailandesas é algo que
deixa os atuais fregueses, os europeus, literalmente no “Nirvana”.
Não raro, é se encontrar
europeus acompanhados de belíssimas damas e com elas se casarem
voltando para o seu frio sorridentes e felizes, porem levando a tira
colo o calor da dama asiática.
Finalmente nos
demandávamos a Bangkok, o destino. Adentrávamos a um rio não muito
largo, porem navegável, 50 km adentro, com um pesado trafego de
navios, chatas pesadíssimas puxadas por potentes rebocadores, barcos
de pesca, embarcações ribeirinhas e ainda barcas que fazem o
transporte de pessoas e veículos de uma margem para outra.
Adentramos ao rio após
navegarmos pelo seu canal de acesso cerca de 6 horas, por volta das
16:00 hs, e as 22:00, lançávamos ancora em frente a um belíssimo
hotel. O fato tranqüilizante é que o rio tem
uma possante iluminação vinda dos estaleiros das margens, de tal
sorte, que nada se torna preocupante.
Chegávamos a
Bangkok, das mais expressivas metrópoles do oriente, onde lá
encontraríamos com a autoridade maior do GUARDIAN, nossa Almiranta
Biiita, que passaria a comandar nossas velejadas.
E o log de bordo
marcava 1506 milhas náuticas navegadas pelo GUARDIAN e sua
tripulação, no Mar do Sul da China, um marco da vela brasileira no
cenário náutico Asiático.
João Sombra
Agosto de 2004 |