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O EQUILÍBRIO
 

 

O texto que trazemos aos irmãos e Almirantas nesta 5ª feira está intimamente ligado ao velejar, seja de que forma o for. O cruzeiro internacional, os cruzeiros ao final de semana, feriados prolongados ou mesmo nas férias e em regatas. Para qualquer destes, o EQUILÍBRIO é fundamental e de extraordinária importância.


 

 

Há diversas formas de equilíbrio, todas são necessárias para quem deseja velejar.

 

Em nosso viver estamos em constante busca deste notável aspecto, obviamente para aqueles que detém um pouco de discernimento.

 

Vejamos, pois alguns destes tipos de EQUILIBRIO:

 

 O EQUILÍBRIO EMOCIONAL

 

É fator preponderante para estarmos bem com nossa mente e corpo e no velejar se trata de algo mais profundo ainda. Não há nada pior um velejar do que se desequilibrar emocionalmente.

 

 O EQUILÍBRIO MENTAL

 

Este nos oferta momentos de clareza que nos eleva a patamares maiores, onde com toda certeza encontraremos soluções para problemas decorrentes de nosso dia a dia. No velejar transmite a calma e a tranqüilidade que todos os velejadores buscam.

 

 O EQUILÍBRIO FÍSICO

 

Aquele que põe em igual pesar as forças como o caso de uma balança. No velejar o praticamos em todos o momentos, não somente com nosso corpo, mas e também com o veleiro.

 

 

Não obstante saibamos existirem diversos outros tipos de EQUILÍBRIO, tais como o Yin e o Yian da cultura oriental. O EQUILÍBRIO espiritual que tão necessariamente se faz mister para nos dar a visão das coisas extra matéria. Na cultura oriental em demasia vemos outros tipos de EQUILÍBRIO, para nós ocidentais pouco ou quase nada conhecidos. 

 

O EQUILÍBRIO mente / corpo, praticado sobejamente nos esportes, como por exemplo, no Judô, Aikido e Tai Chi, enfim outras centenas de atividades desportivas.

 

No velejar este equilíbrio se encontra nos três elementos, a mente, o corpo e o veleiro.

 

Desde crianças que nos envolvemos com o EQUILÍBRIO, que tem o seu início em nossos primeiros passos, até o dominarmos e andarmos de forma plena. Aí tem início e por toda nossa existência o dominar do EQUILÍIBRIO, que inúmeras pessoas se olvidam e passam a ser meros autômatos.

 

Uma das práticas notáveis que exercemos quando crianças e depois é esquecida, o que se traduz em grave erro, é o jogar de não pisar nas linhas das calcadas. Não nos é permitido acelerar o passo ou encurtá-lo a fim de evitar pisar na linha do piso.  Este jogo se praticado em todas as idades, nos dá uma dimensão de distância e traz em seu bojo também o EQUILÍBRIO, mental, físico e emocional. Nos perdemos em momentos de viajar literalmente.

 

 

 

O grande segredo deste jogo é dominar a técnica da diagonal, ou seja, procurar encurtar ou alargar as distâncias sem mudar o ritmo dos passos. É exatamente aí que reside o EQUILÍBRIO.

 

No velejar este jogo simples esta intimamente ligado às regatas.

 

Como sempre apomos, este jogo aparentemente infantil, se praticado de forma mais adulta nos proporcionará o encontrar de EQUILÍBRIOS notáveis como dito acima.

 

Temos por diversas vezes observado a perda de EQUILÍBRIO, principalmente em um veleiro. Quando ocorrem fatores de estresse diferenciados, o mais normal deles o medo. Todavia há outros que são bem mais complicados, como o Capitão que está sempre aos gritos com a Almiranta, ou a tripulação e acaba sem entender o porque da Almiranta não querer nem ouvir falar em veleiro.

 

Os gritos, berros e outros advem da perda do EQUILÍBRIO emocional, normalmente a preocupação do Capitão em ver a segurança do veleiro, mas perder a “olímpica” somente em casos muito extremos.

 

O ideal é o Capitão estar sempre calmo e atento às coisas, sem necessidade de perder seus EQUILÍBRIOS.

 

 

Nestes anos de velejar pelo mundo, diversas e inúmeras vezes tivemos a oportunidade de analisar e bem estes aspectos e fatores. Recentemente aqui na Nova Zelândia tivemos a oportunidade de fazer uma velejada domingueira no veleiro de um conhecido onde havia a bordo cerca de quatro Capitães, ficamos muito na nossa, como colocamos no Brasil, e somente dando qualquer opinião quando perguntado, de resto tomar calmamente a nossa cerveja e não procurar dar de gato mestre.

 

Ao retornarmos já noite notamos a total perda do EQUILÍBRIO emocional do dono do veleiro, a primeira vez que navegava a noite e não conhecendo bem o local, ainda que tivesse a sua frente à carta eletrônica do local e fosse uma baia.

 

A coitada da sua Almiranta, escutando leras e berros e chamada a atenção de forma rude. Provavelmente não irá gostar de novamente velejar a noite ou mesmo velejar.

 

A perda do EQUILÍBRIO emocional, num veleiro, gera confrontos por vezes internos e externos, que     irão abalar gravemente o outro EQUILÍBRIO que é fundamental para nosso bem estar, o EQUILÍBRIO mental. Quando tal ocorre traz complicações terríveis inclusive em nosso corpo físico, tais como diarréias, ânsias de vomito e outros.

 

 Hoje muitos dos que perdem o EQUILÍBRIO mental, nas cidades e centros urbanos notadamente, procuram especialistas disto e mais aquilo e tem doenças chamadas citadinas ou modernas. Na verdade tudo esta intimamente ligado à perda do EQUILÍBRIO mental.    

 

 

No velejar não seria diferente e assim se reveste de fundamental importância estarmos treinando e praticando sempre manter os nossos EQUILÍBRIOS.

 

 

Estar sempre vendo o EQUILÍBRIO da armação das velas a fim de tirar o Máximo proveito do vento. O dispor das coisas dentro do veleiro de forma equilibrada, não havendo mais peso de um lado do que do outro. Enfim a conjunção de todos estes fatores e outros diversos é que faz o velejar nos fornecer a exata dimensão dos EQUILÍBRIOS. Na verdade o velejar de forma equilibrada.


 

 

Isto, com todas as certezas os velejadores o sabem. Uns praticam, outros levados pela pressa e distúrbios outros o esquecem.

 

Um dos aspectos que temos procurado atentar para mantermos sempre os EQUILÍBRIOS, é a paciência. Aliás em nosso livro CONVERSANDO COM O GUARDIAN o colocamos como dos aspectos fundamentais do velejador ao lado da determinação, bom senso e experiência.

 

Como coloca e sabiamente Tereza de Ávila:

 

 “A paciência tudo alcança!!!”

 

Nestes mais de 12 anos que estamos em cruzeiro pelo mundo, com mais de 100 mil milhas navegadas, nos principais mares de nosso lindo planeta água, que vem a passos largos perdendo seu EQUILÍBRIO, face a governos e governantes desequilibrados, temos tido oportunidade de observar a perda de EQUILÍBRIO, não somente o do velejar, mas e sobre tudo do estar a bordo. Assistimos momentos incríveis e por vezes ate nós mesmos somos envolvidos pela perda do EQUILÍBRIO de outros.
 


 

O importante é estarmos sempre reavaliando nossas posturas, em caso de erro aceitar o erro, e tentar superá-lo. Não é um processo fácil nem muito menos rápido, é dificultoso e lento.

 

O estarmos navegando em solitário, nos tem fornecido a oportunidade de analisar e bem estes fatores de EQUILÍBRIO.

 

Assim, a calma e a tranquilidade são fatores de fundamental importância na adequação de nosso EQUILÍBRIOS.

 

O fato ocorrido recentemente conosco ao chegarmos à costa da Nova Zelândia e termos perdido o mastro, estivéssemos estressados e com toda das certezas não estaríamos agora escrevendo estas linhas. Diríamos sem nos distanciar da verdade, que a calma e a tranquilidade foram os elementos fundamentais em todo aquele processo angustiante. O que nos elevou a patamares mais elevados de EQUILÍBRIO, e enfrentamos a situação com determinação, paciência, bom senso e experiência.

 

Com calma e a tranquilidade sendo exercidas de forma plena, o alcançar do EQUILÍBRIO automaticamente ocorre, e quem sai fortalecido e nossa mente e o espírito.

 

São nos momentos críticos que nos encontramos mais vulneráveis e de tudo dependerá nosso EQUILÍBRIO, se mantido nos encontraremos com uma forca além daquela que imaginamos possuir.

 

No velejar em cruzeiro internacional, por vezes é extremamente difícil manter o sistema de EQUILÍBRIO em perfeito estado. O convergir de pensamento negativos de parte de algum tripulante recém embarcado. Ou aquele que conhece tudo, não aceita as determinações e contesta sempre, traz para o Capitão que esta preocupado não somente com o seu veleiro, mas com a harmonia a bordo, momentos terríveis.

 

As pessoas acostumadas à vida da cidade, e eventualmente embarcam em um veleiro, poucas não deixam seus traumas no píer, o que acarreta problemas desagradáveis a bordo para o Capitão resolver, onde por vezes manter o EQUILÍBRIO para o Capitão é das tarefas mais complicadas. As pessoas vem com aquele ranço de desrespeito, falta de educação, destes novos tempos muito em voga no Brasil atualmente.

 

Felizmente todos os momentos passam, tem inexoravelmente seus términos, ou de forma transubstancial se exaurem. O importante é fazermos que os bons momentos sejam sempre lembrados, o que nos favorecerá a estarmos bem equilibrados.

 

Quanto aos momentos desagradáveis, vale também e de forma mais constante deles nos lembramos e fazermos uma avaliação crítica, a fim vermos as posturas que adotamos, as erradas e as corretas e servirem de lição para situações de igual teor no futuro.

 

O aprender é sempre e fundamental, pois quanto mais se aprende é que se descobre o quanto ainda devemos aprender. No veleiro de cruzeiro internacional esta prática é constante, a cada dia estamos tendo uma nova aula e uma nova lição o importante é mantermos sempre nossa postura bem equilibrada de sorte que tenhamos condições de absorver de forma maior os ensinamentos do dia a dia.


 

 

Manter o EQUILÍBRIO deve ser o lema maior do velejar, principalmente no velejar em cruzeiro em mar aberto, onde somente o perfeito é o aceitável.
 

 

João Sombra

07 de fevereiro de 09

Opua – Nova Zelândia

 

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