EXPERIÊNCIA
Aqueles irmãos e Almirantas que
nos honraram lendo nosso livro CONVERSANDO COM O GUARDIAN, diríamos
um “Manual” para os que realmente desejam realizar a volta ao mundo
em um veleiro, estão lembrados que nos referíamos a 5 aspectos
básicos;
PACIÊNCIA
– DETERMINAÇÃO
EXPERIÊNCIA – BOM
SENSO–ORGANIZAÇÃO
Em nosso livro CONVERSANDO COM O GUARDIAN, escrito e direcionado
para aqueles que desejam, ou sonham com este Projeto, enfocamos
dentre outros e diversos fundamentais aspectos, este que para nós é
de suprema observação, a DETERMINAÇÃO. Ainda que sempre o abordemos,
percebemos que é neste ponto onde reside o equilíbrio entre o fazer
e o desistir.
O texto que apresentamos na
ultima 5ª feira tratava da DETERMINAÇÃO, para nós o motor principal
destes aspectos acima apostos.
Hoje abordaremos o segundo motor,
em sua ordem de importância, que é a EXPERIÊNCIA.
Em todos os ramos da atividade
humana, se faz mister tenhamos sempre este motor de desenvolvimento,
que é a EXPERIÊNCIA, que se adquire estudando e praticando a matéria
relativa ao qual pretendemos realizar a atividade que nos propomos.
No cruzeiro a vela não iria ser diferente e o mesmo também ocorre.
Desde os primeiros movimentos, ou seja, as principais velejadas, que
se tem o início do acumulo, ou somatórios desta EXPERIÊNCIAS, que
levamos para toda a vida.
Aprendemos e praticamos, a dar
nós, atracar e desatracar, aproveitar o máximo de vento em nossas
velas fazer, manobras, trimar nosso veleiro, dar bordos e etc.
Vamos praticando e ganhando
EXPERIÊNCIA.
Posteriormente vem os pequenos
cruzeiros, no Brasil, por exemplo, a ida do Rio (Baia da Guanabara)
até Angra dos Reis.
Em continuação e após a
realização destes pequenos cruzeiros em abundancia, sentimos de
forma automática conhecermos melhor a nosso veleiro e o aprendido,
ganhamos então, de forma natural mais confiança.
Vem então os cruzeiros mais
longos, mais demorados onde dormimos vários dias a bordo, cozinhamos
e passamos a ter mais tempo a bordo. Navegamos por trechos do
litoral brasileiro, normalmente junto com outros veleiros, como é o
caso do CRUZEIRO COSTA LESTE. Todavia, e normalmente, sempre com
terra no visual, a navegação costeira.
Em
prosseguimento, faz-se a primeira navegada ao MAR AZUL, onde os
referenciais não são mais costeiros. Como por exemplo, citamos a
notável REFENO, REGATA RECIFE / FERNANDO DE NORONHA, que acontece
todo os anos em meados de setembro/outubro. Onde se adquire
extraordinária EXPERIÊNCIA, como vimos no excelente texto de nosso
mano MÁRIO ENGLES, que aportamos aqui no GG neste ultimo sábado.
Ainda que haja o espírito
regateiro, mescla-se com o cruzeiro e serve de enorme aprendizado,
reveste-se de notável EXPERIÊNCIA adquirida. Onde se toma
conhecimento dos inúmeros fatores que envolvem o cruzeiro a vela
volta ao mundo. É o literalmente viver a bordo, em uma travessia ou
passagem, o vivenciar na sua maior expressão a vida a bordo de um
veleiro; hábitos, métodos, inter-relacionamentos Capitão/Tripulação
e Tripulação/Tripulação.
Tudo se reveste de ganhos de
EXPERIÊNCIA, neste aprendizado constante, até que comecemos a
realizar outros projetos desta envergadura. Outras velejadas
proeminentes.
O aspecto fundamental, é que em
cada derrota ou singradura aprendemos mais, conhecemos mais, novos
instrumentos e ferramentas e vamos colocando em pratica toda aquela
teoria aprendida nos livros de navegação, principalmente aqueles
voltados a transmitir e repassar conhecimentos, e não fantasias.
Há um universo de atividades se
interagindo, se complementando em um veleiro de cruzeiro em
passagens ou travessias. E, com o tempo devido vão realizando estas
atividades de modo automático.
Outra EXPERIÊNCIA notável que se
ganha é no que diz respeito as ancoragens. Analisar o tipo de fundo,
profundidade, ventos dominantes e as correntes no local, o filame
para cabo ou corrente, etc. Passa-se a realizar tal tarefa com maior
tranqüilidade, mormente se for um fundeadouro já de nosso
conhecimento.
Esta é uma pratica muito
utilizada, estar em ancoragens que se conheça, ou então em caso de
primeira vez, ver onde se encontram outros veleiros ancorados e se
dirigir para lá.
Isto se traduz em EXPERIÊNCIA!!!
Aos poucos e no decorrer do
captar todo este potencial de informações, passa nosso pensar de
navegante a visualizar outros aspectos, que também exercem
fundamental importância. Tratam-se dos erros ou “Mancadas”.
Não há nada que ensine mais do
que um erro cometido!!! E, no mar, 99% dos erros são de falha
humana!!!
Quando detemos uma forte dose de
EXPERIÊNCIA estes erros são minimizados, não obstante, se não temos
muita EXPERIÊNCIA, e resolvemos dar um pulo maior que as pernas,
podem ocorrer fatos muito desagradáveis e devemos estar sempre
alertas e preparados.
Assim, cada momento e cada
velejada devem estar totalmente compatíveis com a EXPERIÊNCIA
adquirida. Como coloca o PEQUENO GUARDIAN em seu livro;
- Tudo a seu
tempo!!!
Nós quando partimos para realizar
nosso Projeto, como colocamos, “Colher o nosso Sonho”, semeado e
cultivado durante cerca de 20 anos, já havíamos velejado toda a
maior parte do litoral brasileiro, de Belém do Para ate Santa
Catarina. Isto nos anos 85 e 86, quando a vela de cruzeiro era muito
pouco conhecida no Brasil. Por exemplo, para se ter uma idéia, em
termos de Marinas, somente havia e recém construída a nossa querida
Marina da Glória, o cartão náutico de visitas do Rio de Janeiro,
onde se realiza anualmente um dos maiores eventos náutico da
Américas, o RIO BOAT SHOW.
É óbvio, que tivemos nos tempos
de adquirir EXPERIÊNCIA, momentos críticos, faz parte do
aprendizado, mas a DETERMINAÇÃO falava mais alto.
Quanto aprendido naqueles 20 anos
de espera, quantas notáveis lições e aprendizados!!!
Todos, sem exceções, os
velejadores de cruzeiro, já passaram por momentos críticos em seus
aprendizados, e tem seus “causos”, como coloca nosso patriarca MAGA.
Porem, todos receberam e adquiriram EXPERIÊNCIAS nestes fatos.
Errar é humano, não reconhecer o
erro é teimosia e repetir o erro é burrice!!!
Desta forma fomos desenvolvendo,
reconhecendo os erros e tirando deles lições preciosas. Hoje já com
cerca de 12 anos velejando em cruzeiro volta ao mundo e já na 2ª
viagem, ainda continuamos aprendendo, e muito. No mar cada dia é uma
classe diferente um novo ensinamento recebido. Entretanto, a maior
EXPERIÊNCIA e aquela notável é aprendemos a ser humildes, nos dar
com todos, falar com todos, tratar bem a todos, ainda que isto tenha
nos custado incríveis decepções e dissabores e sermos alvos de
pessoas de pouca estatura moral, que nos agridem ou por inveja ou
por vaidade ferida. Mas assim é a mente humana.
A simplicidade e a humildade
formam o binômio que se demonstra de forma inequívoca ter se
adquirido mais EXPERIÊNCIA.
Assim, esperamos que este texto
sirva de incentivo e ao mesmo tempo de alerta, para aqueles que
nutrem o sonho de fazer a volta ao mundo em seu veleiro.
João Sombra
Ilha de Margarita
11 de outubro de 2007 |