CONVERSANDO
SOBRE
CRUZEIRO À VELA VI
Estávamos em uma destas
tardes magníficas, apreciando um belíssimo por do só em Margarita,
de forma distraída, de nosso amigão, quando as poucas nuvens
existentes, adquiriam a tonalidade rósea, tão característica e
apontando o belo dia que seria o amanhã, e a velha oração do
navegante vinha à mente:
...Avermelhou no poente
marinheiro contente...
Quando com o radio
ligado na estação, Radio Nacional da Venezuela, apresentava uma
entrevista com o Ministro do Turismo, que tecia comentários sobre o
crescimento deste setor em seu pais. E, apresentava dados a respeito
deste seguimento, que muitos paises ainda, seus dirigentes estão a
esquecer ou mesmo não dando a menor importância, como e o caso do
Brasil, cujos trabalhos e projetos são sempre realizados a nível
governamental de forma pouco profissional e ate medíocre.
Na maioria das vezes e
como de praxe nas empresas do governo, se encontram dirigentes
despreparados, sem nenhum conhecimento técnico da área de atuação e
sãos os tais prêmios por ter auxiliado na campanha presidencial ou
então indicados da politicalha em troca das favores do governo, e
aprovações de projetos deste no Congresso.
A velha temática do
dizer:
E dando que se recebe,
tão e sempre em voga em nosso pais para preenchimento dos cargos no
primeiro e segundo escalões do governo, pode ser qual partido for
que a sistemática e a mesma.
Mas o fato, que nos
chamou a atenção e tem a ver com o presente texto desta 5ª feira,
foi que em certo momento o Ministro afirmava:
....do inicio deste ano
ate hoje (maio de 2007), cerca de 493 iates e veleiros estrangeiros
chegaram à Venezuela. E com a próxima temporada de furacões no Mar
do Caribe temos uma previsão de um aumento de 30% neste numero. E
possível que fechemos o ano com um numero aproximado de 900 destas
embarcações chegando a nosso pais....
Continuava fornecendo
dados, números e estatísticas mostrando o crescimento do turismo
venezuelano.
O que para nós de
imediato causou a maior espécie, foi primeiro o número expressivo de
embarcações estrangeiras, segundo o interesse do governo nestes
números e depois o fato de um levantamento destes, o que não é algo
difícil de se saber, basta tão simplesmente à informação dos Portos
de Entrada no pais ser uma cópia enviada ao Ministério do Turismo.
Entretanto nosso pensar
se deteve em estabelecer um aspecto comparativo com nosso pais.
O Brasil, que detém um
litoral do dobro da Venezuela, com locais e navegadas
extraordinárias, não recebe por ano 10% deste numero em termos de
embarcações estrangeiras, mesmo porque não há o menor interesse em
conhecer este indicador.
Obviamente que algo está
em disparidade com o pensamento do setor turismo.
E qual seria o motivo
deste indicador ser tão baixo.
Diversos motivos, e não
somente um, estão e fazem parte deste contexto, senão vejamos:
Inicialmente o carro
chefe, de não se querer ir ao Brasil em face de total falta de
segurança, e não estamos falando de cidades e sim de mar, náutica. O
que se vê, são os turistas chegando no pais de avião, em nosso
aeroporto principal, ou mais conhecido, o Galeão e os turistas sendo
assaltados dentro e fora deste a caminho de seus hotéis. Agora
imaginem se chegando por mar.
Seguindo-se vem os
absurdos que se tem que enfrentar para se fazer os papeis de
entrada, onde funcionários despreparados e desqualificados, não
falam uma só palavra de inglês e ainda desconhecem o processo.
Quando em 2006,
estávamos na Marina da Glória para participarmos do Rio Boat Show,
chegou ao local um veleiro australiano, como em contrapartida a
atenções que recebemos em seu pais, agora era a nossa vez de
auxiliar.
Atila, meu filho e
Imediato do GUARDIAN, como acompanhante dos australianos, Paul e
Debbie, foi a Policia Federal, com eles cerca de oito vezes. O maior
dos absurdos que já vimos ou tomamos conhecimento em matéria de se
adentrar em um pais de veleiro ou iate.
Nem vamos prosseguir
neste assunto para não ficar mais chato ainda!!!
Por estas e por outras,
que conhecemos muitos veleiros que navegaram o litoral brasileiro
sem não manter o menor contato com as autoridades. Colocam a popa a
Bandeira do Brasil, como se fora veleiro brasileiro, só param em
pequenas cidades ou vilarejos, o que até se faz mais seguro, pois há
menos violência urbana, e depois se escafedem.
Acabam fazendo
excelentes amizades, se tornam conhecidos, e tudo flui da melhor
maneira possível.
Outro aspecto
desabonador é o que ocorre em Fernando de Noronha. Em tempos
passados, os veleiros advindos da Europa, passavam pelas Ilhas
Canárias, Cabo Verde e demandavam a Noronha, que inegavelmente é dos
belíssimos locais de nosso litoral, e de lá aproavam para o Caribe
ou em alguns casos desciam até Salvador, o maior centro turístico
nacional, e de lá subiam o litoral nordeste, que é lindíssimo e de
fácil navegar, até Fortaleza,
e demandavam ao Caribe.
Pois bem, IBAMAS e
outros órgãos desprovidos de bom senso, começaram a cobrar um
absurdo por se estar em Noronha, que obviamente afugentou este
seguimento turístico. O custo de vida hoje em Noronha se tornou tão
caro que se pensa estar em um pais da Europa.
Ainda se soma a este
descalabro em nosso pais, o absurdo que se paga por um produto
náutico, se vendendo uma torneira de pia, simples, com um custo não
superior a US$ 20.00 por R$ 550.00. Como aconteceu conosco
pessoalmente em Salvador, na loja Regatta da Bahia Marina.
E, para finalizar este
elenco de gols contra:
A polemica e ate hoje
desconhecida medida, que estabelece o prazo de 24 meses para
embarcações estrangeiras se manterem no Brasil. Desconhecida
nacional e internacionalmente. Não se sabe ao certo de nada e sempre
o ouviu falar. E, não adianta nos brasileiros sabermos desta lei,
regulamentação, ou seja, lá o que for. O importante e fundamental e
se divulgar lá fora nos demais paises para que se saibam, mas isto
já e querer demais.
Assim, e passando a
tecer reflexões para o futuro, a fim de reverter este quadro nada
promissor para a náutica brasileira e seu turismo à vela, urge uma
medida semelhante àquela adotada pelo então Presidente Collor, no
que tange a respeito dos automóveis, as carroças da época.
Foi liberada a
importação e o parque automobilístico nacional ganhou dimensão
inimaginável, e muitos daqueles que hoje desfilam em carros modernos
e de alta tecnologia, nas precárias ruas, avenidas e estradas de
nosso pais, nem se recordam mais deste fato.
Pois bem, no seguimento
náutico é imperioso e fundamental que se adote a mesma medida,
liberando de taxações qualquer produto náutico importado desde um
parafuso de aço inox de cabeça Philips (estrela) até a embarcações
de pequeno, médio e grande porte.
Em muito pouco tempo,
estaremos fabricando a preços competitivos e reais e não
estapafúrdios, boas embarcações, equipamentos eletrônicos e tudo
mais.
Tecnologia não nos
falta, até mesmo ao contrário, temos profissionais fazendo coisas
notáveis e como exemplo citamos o Roberto, o Betão de Ubatuba,
e suas incríveis luminárias LED, perfeitas e por custos que os
gringos ficam de boca aberta de tão baixos.
Em Maceió, quando lá
estávamos fazendo a reforma geral do GUARDIAN, o maior problema
seria a checagem e limpeza geral dos eletrônicos, que acabou se
tornando a mais fácil.
No Porto de Maceió,
fizemos amizade com o Wladimir, um expert em eletrônica, que
rapidamente deixou nossos eletrônicos como novos e a um custo
meramente simbólico.
E, nos reportava ele:
─
Sombra, não se faz GPS, Radar, Rádios, etc, em nosso pais por tão
somente falta de peças, pois tem gente que sabe disto muito mais que
lá fora!!!
Isto vale dizer que mão
de obra temos, o que falta é vontade política de desenvolvimento.
Aliás como em tudo em nosso pais, falta esta vontade e não aquela
outra que existe sobejamente de aumentar seus próprios salários, e
de forma constante, e fora da realidade do pais.
Ao se impetrar a medida
de liberação da taxação nos produtos náuticos, desdobramentos irão
ocorrer e em progressão cósmica, ou seja, mais embarcações, mais
produtos, por decorrência mais Marinas e Clubes Náuticos, e de
imediato o crescimento qualitativo e quantitativo do setor, gerando
milhões de empregos diretos e indiretos, e, por conseguinte,
aumentando o turismo náutico, interno e esterno, em um pais cuja
vocação marítima esta adormecida desde os grandes descobrimentos.
Vejam que o nosso pais
somente foi ter conhecimento de velejadores de cruzeiro nacionais a
partir do final da década de 70. Enquanto outros paises estes
velejadores já haviam feito centenas de viagens de circunavegação.
Este ao nosso ver, e com
a experiência adquirida nos diversos paises que estivemos, é o
caminho sério e real para o melhor desenvolvimento deste setor que
comentamos em pauta.
Obviamente que não
faltaram vozes negativistas, que embasadas em seus interesses
pessoais, ou mesmo laranjas, irão defender o grande, notável,
extraordinário e volumoso parque industrial náutico nacional, o
mesmo que a época se fazia à medida do Presidente Collor. Bobagem,
balela e besteira da mais proeminente, pois 90%, se não mais, dos
produtos náuticos em nosso pais, e importado.
Obviamente que as
REGATTAS da vida irão à loucura, pois não poderão mais cobrar por um
GPS de US$ 350.00, o equivalente a R$ 5000,00. Exemplos deste tipo
irão obviamente questionar de forma veemente tal medida.
Enquanto não se observar
este setor, com visão maior, de farol alto, as coisas continuarão as
mesmas, e menos de 50 veleiros de bandeira estrangeira estarão
navegando em nossas águas e possivelmente muitos destes sem nem ter
dado entrada legal no pais.
E, nosso litoral, a
Amazônia Azul, belo e acolhedor, continuará a mercê dos IBAMAS, que
embasados em projetos retrógrados e fora da realidade irão
transformá-lo em coisas absurdas e fora de qualquer contexto de bom
senso, como o recentemente projeto para o Arquipélago das Cagarras,
no Rio de Janeiro.
Por sorte ainda temos a
VIVAMAR, e outros abnegados, que reuniram a sociedade para obstar
tal idiossincrasia e fazê-los a contra gosto aproximar-se da razão.
Poderíamos ainda
continuar muita lauda neste tema, inclusive mostrando a nossa
Marinha quanto ela cresceria em termos maiores, pois é inesgotável
os fatores pro liberação da importação de produtos náuticos.
Todavia, os que já colocamos nesta conversa, já demonstram
sobejamente, nosso pensamento a respeito.
E, irmão e Almirantas,
reflitam em sobre o tema, e agreguem outros fatores
desenvolvimentistas, pois quem sabe, se distraídos, os políticos
brasileiros aprovem tal projeto que só visa o crescimento da náutica
em nossa nação.
João Sombra
Maio 2007
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