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CONVERSANDO
SOBRE CRUZEIRO I

Durante os quase 20 anos em que estivemos nos preparando para realizarmos nossa volta ao mundo, infinitas horas passamos observando e analisando detidamente o PLANISFÉRIO e os oceanos do mundo. Hábito que atá hoje guardamos e o estamos sempre a fazer na cabine do GUARDIAN.

Aqueles irmãos e Almirantas que desejam realizar este mesmo projeto, não devem se furtar a este tipo de análise e estudo.

Inicialmente consideramos a área que iremos navegar, na maior porção da viagem, ou seja, os trópicos. Arrendondando e sem preciosismos, do Equador 0 a 20 N e 20 S. Ai esta onde faremos a nossa trajetória, a nossa rota de verão o ano inteiro.

A partir dos 26 N ou S, já se encontram os problemas de meteorologia, obviamente para aqueles que os procuram, e fatalmente irão encontrá-los. Além disto podem se preparar para ir encontrando o frio, conversar com focas, leões marinhos e pingüins. Coisas que não somos muito afetos, isto e hábito de um outro navegador e não nós do GUARDIAN.

De pronto ao se observar o PLANISFÉRIO, vimos os três grandes oceanos. O Atlântico, o Pacífico e o Índico, estes dois últimos pouco ou nada conhecidos por nós brasileiros.

Com uma observação mais apurada e detalhada, se nota de imediato ser o Atlântico que detém os maiores problemas. Senão analisemos...

Ao norte a forte influência do continente Ártico, com fortes oposições e frentes de baixa pressão advindas do norte europeu e do norte do Canadá e adjacências.

Por seu lado oriental, o Mar Mediterrâneo lançando suas fortes correntes através do Estreito de Gibraltar. No lado ocidental, a influência do Mar do Caribe, e sua temporada de furacões.

Descendo-se observamos no litoral norte da África as fortes orientações dos ventos advindos do deserto de Sahara.

Ao sul, do lado oposto, a América do Sul, cujo trecho de fácil navegada está situado do litoral da Bahia até a Bacia do Orinoco. Mesmo assim devendo-se observar suas épocas de ventos prioritários.

Abaixo da Bahia, já se está comprometido o Atlântico, com as fortes influências do continente Antártico e a grande cadeias das montanhas sul americanas.

É exatamente por estes motivos ser o Atlântico o oceano de mais dificeis navegadas.

O grande Pacífico, o Oceano de Balboa, já por seu nome apõe o que é. O Oceano do GUARDIAN, pois além de ter nascido neste, foi onde realizamos as mais gostosas e satisfatórias velejadas, o sonho de todo o velejador.

O Pacífico norte, da mesma forma que o Atlântico, ainda que uma porção de água muito maior, sofre influência dos Storms do Alaska, que provocam as grandes ondas no Arquipélago Hawaiano. Por seu lado oriental ocorre o mesmo fenômeno provocando fortes temporais até o Mar do Japão.

Já o Pacífico Sul, não sofrendo tanta influência de terra, e por estar mais aberto, sendo bem amplo, somente irá ter frentes constantes ao sul, após os 26 S, e devido ao continente Antártico.

Todas as vezes que se encontram as altas latitudes, se encontram também altos problemas de tempo. E, por tal, o Barômetro passa a ser o grande instrumento a bordo. Caiu o Barômetro, pode ter absoluta certeza que vem Pauleira.

Então, o local de grandes navegadas e a área equatorial do Pacífico. Ventos alísios constantes, na faixa dos 15 nós, de abril a outubro. Depois as mutações se iniciam e vem a Temporada de Furacões, como conversaremos mais adiante, em tópico específico.

O Oceano Índico, mediador entre os dois outros grandes oceanos, tem muito mais a ver com o Pacífico. Seus pontos conflitantes são o sul da África e o norte da Ásia. De resto se assemelha em muito ao Pacífico, sendo um velejar inegavelmente tranqüilo, se observando as áreas sul e norte, por razões já comentadas e semelhantes ao Pacífico. Principalmente nos Golfos, grandes enseadas e estreitos. Como Bengala, Mar da Arábia, Estreito de Torres e também obedecendo as suas janelas do tempo, ou seja, as épocas certas de se navegar.

Assim, a primeira visada no PLANISFÉRIO, se pode claramente notar ser o Atlântico um Oceano espremido e fechado, e o Pacífico e Índico, oceanos largos e abertos. Isto, para nós cruzeiristas, é de fundamental importância, a fim de entendermos bem a meteorologia destes grandes mares.

Não obstante toda esta calma do Pacífico e do Índico, há que se observar suas épocas de navegabilidade, que são bem definidas, como no Atlântico o Mar do Caribe.

Novamente retornamos a visar o PLANISFÉRIO, e podemos notar que todas as vezes que são criadas pelos continentes grandes enseadas rodeadas de montanhas, face a este relevo, apresentam incontestáveis indícios da presença de furacões, ou similares.

Senão vejamos...

Comecemos pelo Mar do Caribe, um bolsão formado pelo Golfo do México, com fortes influências das altas montanhas mexicanas, da América Central e da América do Sul.

O vento empurrado pelo lado do Pacífico ao Golfo do México e por seu aspecto topográfico, roda e tem sua saída natural em direção às terras baixas dos Estados Unidos, ao sul, que se estendem até a Flórida. Este é o caminho natural dos furacões Caribenhos, que não chegam ao litoral norte da América do Sul, ou seja, Venezuela e Colômbia até ao Panamá, exatamente face a sua área e relevo montanhoso.

No Pacífico Sul, o fenômeno ocorre face ao encontro dos fortes ventos que se formam na Micronésia, e adentram as ilhas Salomão, que face a sua topografia longitudinal aceleram estes ventos. Por não haver terras altas adiante, vai em frente até quase a zona equatorial do continente sul americano quando encontra as depressões andinas e para.

Por se tratar o Pacífico equatorial de uma área com pouca ou nenhuma influência de terras altas, já que na maior de suas terras da oceania, a Austrália não possui montanhas expressivamente altas, resulta nas épocas certas os furacões. Aliás neste local do Pacífico, também um processo da Mãe Natureza para sanear seu grande oceano.

No caso do Índico, na área da Indonésia, Malásia e Tailândia, em suas porções equatoriais, não existem furacões. Tal fator se devendo as características locais das monsões advindas do norte asiático.

Assim, vamos encontrar os furacões nos grandes bolsões como Bengala, o Mar Arábico, e aquele outro que se encontra até o Estreito de Torres, formado pelas ilhas da Indonésia e a Austrália. No meio do Índico pouco há distúrbios climáticos, tanto que Chagos e um excelente local e que pouco sofre destas terríveis tempestades.

Os casos do Mediterrâneo e Mar Vermelho, por serem mares totalmente fechados e espremidos, a influência de terra e a grande e forte constante.

O Mar Vermelho, excelente de se navegar, com tempo e sem pressa, pois na correria é um desastre, sofre influências do lado Asiático, do lado Africano e do norte pelo Mediterrâneo oriental.

Do lado Africano, o grande Sahara impõe suas cartas, com suas fortíssimas Tempestades de Areia. De tal sorte, que o Mar Vermelho funciona como Marisco, levando empurrões de todos os lados.

Assim, e por isto, a sábia Mãe Natureza criou de ambos os lados deste Mar, pelo continente Africano e Asiático, após o Estreito de Bab-El-Mandab, sua entrada sul, as famosas Marsas, baias pequenas onde se pode estar protegido de alguns ventos e do mar, principalmente, aguardando sua melhora para prosseguir a navegação. Exatamente por tal, e que afirmamos que o navegar pelo Mar Vermelho deve ser sem pressa.

O Mediterrâneo, e o velho conhecido do vento zero ou então Pauleira. Sofrendo fortes influências dos ventos Europeus e do norte Africano, se encontra também como Marisco.

O velejar nestes dois mares é mais propício e tranqüilo durante o verão, onde a calmaria será a constante, mas nem sempre. E, no Litoral Europeu, o bolsão do Golfo de Leon, ao sul da França diz tudo. Ocorrendo o mesmo no Estreito de Gibraltar, neste face ao afunilamento do vento e mar.

No Norte Europeu, e o que o PLANISFÉRIO nos demonstra, já afeto as altas latitudes e por tal inconstante.

Pelo exposto acima, e reiteramos aqueles que desejam fazer sua viagem de circunavegação, namorar o PLANISFÉRIO, pois fica fácil com uma visão, ainda que não seja de farol alto, observar qual o melhor caminho a se adotar, e por tal, os cruzeiristas mais experientes o fazem.

Todavia, se faz mister e imperioso, também observar os caminhos direcionais dos ventos leste–oeste, a fim de se evitar ventos contrários, sempre inconfortáveis aos cruzeiristas.

Quanto ao contornar o sul dos continentes, via África do Sul, ou Cabo Horn, bem, para quem gosta de frio e emoções fortes, tipo filme de terror, pode se uma opção. Mas, estejam bem atentos as diminutas épocas certas, quando se pode encontrar estes dois locais mais tranqüilos, porém não são muitos os dias durante o ano que tal ocorre. E, com as mutações que vem ocorrendo na climatologia global, fica muito difícil se não encontrar algo indesejado.

Exatamente pelo exposto neste texto, e que não temos a menor dúvida em afirmar que o Pacífico Sul e o Índico Equatorial, o sudeste Asiático, inegavelmente são os locais de sonhos do velejador de cruzeiro.

Não comentamos sobre o Mar da China, exatamente por bastar ilhar o PLANISFÉRIO e atentar para a forte influência da Ásia, notadamente os desertos da Mongólia e os contrafortes da China. Além disto, navegamos tão somente no Mar do sul da China, aliás o primeiro veleiro brasileiro a fazê-lo, quando adentramos cerca de 50 kilometros o Rio de Bangkok.

A vocês, irmãos e Almirantas, futuros cruzeiristas internacionais, vai a sugestão; Namorem o PLANISFÉRIO, que irão fatalmente descobrir aspectos fantásticos e sobre tudo conhecer um pouco mais da climatologia de nosso lindo Planeta Azul.        

       João Sombra
 

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