CARBON O GATO
Quando chegamos ao Allan Legge
Boatbuilders, onde se encontra o GUARDIAN, e este é o especifico
nome do estaleiro, conhecemos uma figura notável. Obviamente que o
proprietário Allan e sua gentil esposa Pauline também o são. Mas o
fato é que conhecíamos ao CARBON. Um gato com nada especial,
aparentemente, todavia quando o se conhece é algo extraordinário.
Nos primeiros meses, olhava-nos
de rabo de olho, como a pensar:
– Que estranho este cara
estrangeiro, fala uma língua diferente, nunca dantes a ouvi, mas
aparentemente não parece ser má pessoa.
Enquanto estávamos no pátio,
raspando a tinta venenosa e os trabalhos preparativos para
adentrarmos ao “shed”, ele vez por outra aparecia.
As sextas feiras na “beer time”,
quando todos se reúnem para a gelada e o encerrar da semana, um
habito muito salutar. Carbon sempre aparecia e começava a
estabelecer uma pequena amizade conosco. O velho que todos chamam de
Jhon, fala diferente e tem as barbas brancas.
Após nos adentrarmos ao “shed”,
estávamos em sua área interna, o que vale dizer a sua residência.
Não éramos mais um intruso.
Ao terminar o dia, por volta das
17 h, Allan e Pauline retornavam a sua casa e ficávamos quando então
nos encontrávamos sozinhos no “shed’, então ele aparecia
sorrateiramente, nos mirava de longe de forma circunspeta, e de
forma sutil se escafedia.
Nestes dois primeiros meses no
inicio de nossa estada no shed, nosso filho mais velho Alexandre
viera da Austrália para nos dar uma mão nos serviços iniciais de
desmontagem dos equipamentos do GUARDIAN. Assim, trabalhávamos
sempre ate às 23 h ou meia–noite, e sempre lá estava o CARBON a nos
observar.
A neta única de Allan e Pauline,
a encantadora Sophie, com seus quatro anos viera passar uma semana
com os avós aqui em Opua, e o dia inteiro se encontrava no
estaleiro. CARBON sentia invejas doentias e pelo que pudemos notar
não era muito afeto a crianças. Sendo Sophie o alvo maior das
atenções e acabou achando guarida no velho de brancas barbas e fala
esquisita.
Vinha, como quem não quer nada,
dava suas características miadas e deixava que o alisássemos. Desta
arte foi se iniciando uma primeira amizade entre nós e o CARBON.
Ele como o próprio nome já o diz,
é preto, mas com meias brancas e peito também, o que por vezes
brincamos estar ele vestindo um “smoking”, de black tié.
Os dias, semanas e meses forem
passando e CARBON se apegando ao Jhon. Já não nos olhava mais de
rabo de olho, vinha de forma sorrateira e o acarinhávamos de forma
tranquila.
Nós que sempre fôramos muito
afetos a crianças e animais, e sozinhos, encontrávamos um
companheiro, principalmente a noite uma excelente companhia.
Entretanto não o sabíamos ainda,
nem ele, a amizade que eira se estabelecer entre nós.
Nossa escola de trato com animais
foi quase um doutorado, e ministrada as aulas por nossos “micos”,
quando morávamos em nossa casa na Praia do Francês, em Alagoas.
Viviam conosco e faziam parte da
família, uma outra família a dos “micos”, que se apegaram de forma
extraordinária a nós. Estes acabaram por nos ensinar como deve ser o
trato dos humanos com os animais em seus mínimos detalhes.
O primeiro e único óbice a ser
vencido para se estabelecer uma amizade é ganhar a confiança,
vencido este obstáculo acabam-se as duvidas e o animal torna-se seu
amigo e companheiro.
Não obstante para se adquirir a
confiança, o caminho maior, e melhor, é o fornecer do alimento.
Este, no caso do CARBON, feito por Alan e Pauline.
O fato que gerou esta atividade
para nós, de fundamental importância, foi à necessidade deles
estarem ausentes por cerca de uma semana, iriam a Auckland, e nos
solicitavam alimentarmos ao CARBON.
Conseqüentemente dois fatores de
fundamental importância se agregavam à equação de adquirirmos a
confiança do CARBON. O primeiro o alimentarmos e o segundo, com a
ausência de seus amigos, e a saudade se fazendo presente, o elo de
ligação com ele éramos nós.
Dito e feito, ao choramingar
pelos cantos do estaleiro a procurar seus amigos, e não os
encontrando vinha a nós.
Preparamos uma pequena caixa de
papelão alcochoada, com sua comida ao lado, e abaixo de nossa mesa
de trabalho e CARBON, encontrava ali a seu local.
Como o definimos, CARBON é um
intelectual, aparentemente, não gosta de barulhos, de movimentos
rápidos, e não é afeto a pegarem no colo. Este ultimo proceder tem
que partir dele a iniciativa.
Nestes dias em que Allan e
Pauline estiveram ausentes, foram muito frios e a noite mais ainda.
Ficávamos ao terminar dos
serviços diários, sentados em nossa mesa de trabalhos analisando as
tarefas realizadas no dia e a providencias para o dia
seguinte.Finalizada esta atividade, assistíamos a um filme em nosso
DVD Player, ou escutávamos uma área de opera. Uma musica clássica ou
um samba que matávamos as saudades da terra pátria.
Foi quando CARBON resolveu desta
atividade relaxante, também participar.
Vinha sorrateiramente e se
colocava inicialmente sob nossa cadeira. O alisavamos e vapt-vupt,
pulava rápido, com a agilidade de todo o felino, e se punha em nosso
colo. Agasalhados e bem face ao frio, era o local desejado por ele,
alem do fato de também ele estar quente, ficávamos fazendo cafuné
nele e aquecíamos nossas mãos. Enfim, mutuamente nos aquecíamos.
E se tornou habito diário à noite
tal proceder e a confiança fora estabelecida e ganhávamos a sua
amizade in toten.
Por vezes íamos ao interior do
GUARDIAN e ele nos acompanhava, seguia todos os nossos passos, era
inegavelmente aquele parceiro para as noites frias e solitárias no
shed.
Allan e Pauline retornavam e
admirados viam o CARBON cheio de apegos e intimidades conosco e se
admiraram, pois nunca jamais CARBON se dera com alguém assim. Mesmo
com eles presentes ao finalizar do dia lá vinha o parceiro e amigo a
estar sobe nossa cadeira e depois pular em nosso colo.
Um fato deveras interessante
viera a ocorrer semanas seguintes, que passamos a narrar;
O dia fora de muitas atividades
para nós estávamos a montar as portas de venezianas, paralelamente
envernizando algumas peças, alem de concomitantemente estarmos
pintando o cockpit.
Ao final do dia e ate por volta
das 23 h era o limpar das ferramentas, organizar o material e deixar
tudo preparado para o dia subseqüente.
Para não quebrarmos o
relacionamento com CARBON, íamos comentando os afazeres com ele:
– Esta vendo parceiro, agora o
limpar da pistola do spray do verniz.
– Agora é o guardar as lixas não
usadas e a lixadeira ali.
– Aqui é o local das tintas de
amanha.
– Estes pinceis de arremates
vamos deixá-los de molho na acetona para seus pelos estarem de
acordo.
CARBON nos seguia atentamente
captando nossos ditos e acreditamos entendendo perfeitamente.
De repente distraídos nos
encontrávamos, que não notamos o seu rápido defenestramento.
O chamamos, e nada!
Bem, pensamos, se aborreceu com
este papo de trabalho e se retirou circuncisflautico.
Distraídos ficamos a concluir as
providencias para o dia seguinte, quando de repente ouvimos as duas
miadas graves características de sua presença e repentina chegada.
Fomos ao local onde se
encontrava, sob nossa cadeira, e em sua boca um passarinho.
Colocando-o no piso nos olhava como quem diz;
- Você faz e fala das suas
coisas, tudo bem, eu faço as minhas também, esta é minha
atividade!!!
E começou a degustar a sua
caça.
A partir deste dia CARBON passou
a ser para nós não só o gato, mas CARBON o GATO MAORI CAÇADOR!!!
Hoje, agora enquanto escrevemos
este texto, o comentamos com nosso amigo e companheiro das noites
frias de inverno na Nova Zelândia, e ele vez por outra nos olha como
a dizer:
– Escreve de acordo a meu
respeito para seus amigos do Brazil (com z mesmo, pois assim é em
seu idioma).
– MIAUUUUUUUUUU!!!
Valeu CARBON, temos a absoluta
certeza que nossos amigos, os que acompanham a viagem do GUARDIAN e
os irmãos e Almirantas de nosso Grupo Yahoo Guardianboat, irão
também o admirar como nós. Alias das maiores amizades feitas por nós
nestas terras da Nova Zelândia, você o nosso super mano CARBON!!!
João Sombra e CARBON
Opua, 21 de julho de 09
|