Há alguns anos atrás, nas
Olimpíadas Especiais de Seattle, nove participantes, todos com
deficiências físicas ou mentais, alinharam-se para a largada dos
100 metros rasos. Ao sinal, todos partiram, não exatamente em
disparada, mas com a vontade de dar o melhor de si, terminar a
corrida e ganhar. Todos com exceção de um garoto, que tropeçou no
asfalto, caiu rolando e começou a chorar.
Os outros oito ouviram o choro.
Diminuíram o passo e olharam para trás. Então eles se viraram e
voltaram. Todos eles. Uma das meninas com Síndrome de Down deu um
beijo no garoto e disse:
─ Pronto agora vai sarar!
E todos os nove competidores
deram os braços e as mãos e andaram juntos ate a linha de chagada.
O estádio inteiro se levantou e os aplausos duraram muito tempo.
As pessoas que estavam ali, naquele dia continuam repetindo essa
historia ate hoje.
Talvez os atletas fossem
deficientes físicos ou mentais, mas com toda a certeza não eram
deficientes da sensibilidade.
Por
que?
Porque lá no fundo, todos nós
sabemos que o que importa nesta vida é mais do que ganhar sozinho.
O que importa nesta vida é ajudar aos outros a vencer, mesmo que
isto signifique diminuir o passo e mudar de curso.
Transcrito do livro
NOVAS ESTÓRIAS DO ENTARDECER, de William Mello Candido
e nos ofertado em 25 de marco de 2003 pelo mano Nelson do
GG.
Este texto que colocamos como
preâmbulo para esta 5ª feira nos trás, e propositadamente, a uma
profunda reflexão.
Desde o início de nossa viagem,
e lá se vão quase 12 anos, não contamos com a ajuda de nenhum
cruzeirista brasileiro, e os conhecidos à época, a quem escrevemos
solicitando informações, ou não responderam ou se negaram a
fazê-lo, e vejam bem que não eram deficientes físicos ou mentais,
pelo menos assim supomos!
Desde então passou a ser nosso
objetivo permanente exatamente fazermos ao contrario, auxiliar,
ajudar e incentivar aqueles que desejassem fazer o mesmo. E assim
o temos feito ao longo destes anos.
Alguns cruzeiristas destes que
ajudamos, direta ou indiretamente, a realizarem o seu “sonho” já
se encontram colhendo-o, outros em vias de realizá-lo e muitos
ainda recebendo informações nossas, aqui no GG, em emails em PVT,
em nossos livros, e de outras formas, ate que consigam
efetivamente partirem para sua viagem.
O que temos sempre aposto é que
ao partirem procurem da mesma forma desinteressada, também ajudar
aqueles que venham a deter o mesmo objetivo, pois certamente
estaremos estabelecendo uma enorme cadeia, que redundará no
crescimento da vela de cruzeiro em nosso pais.
Um dos aspectos fundamentais,
para realizar a viagem de circunavegação é aquele que tange aos
recursos financeiros. Por tal motivo aguardamos cerca de 20 anos,
ate conseguimos a sonhada Carta de Alforria, ou seja, a nossa
aposentadoria, para iniciarmos a viagem.
A época todos os livros
escritos sobre cruzeiro à vela em português, sem exceções, não
apresentavam sequer uma linha a respeito desta temática. Os
custos, os gastos e as possíveis receitas.
Escrevia-se muito sobre mares
turbulentos, mastros que caiam, aventuras incríveis, medos e super
atividades em solitário, ate com conquistas amorosas, mas sobre o
quanto custa nada!!!
Mais ainda, como se fazer, onde
adquirir o veleiro, quais as melhores rotas, as condições mais
favoráveis, afora outros senões e duvidas que persistiam.
Assim, a fim de dirimir tais
questões, e desmistificar os procedimentos, passamos a participar
de Grupos na Internet, escrever livros, apresentar os textos das
5as feiras, responder a milhares de emails, dar entrevistas,
palestras e escrever matérias nas Revistas náuticas. Ou seja,
abríamos a Caixa Preta.
Por termos nossa Carta de
Alforria, não necessitávamos sair correndo, como loucos
desvairados, atrás de parcerias e similares e nossa ética se
mantinha.
Foi então que começamos a
notar, que muitos daqueles que colheram nossa informações,
receberam dicas e outros, partiram para levantar e alavancar
recursos da forma que pudessem, ate mesmo não éticos e pouco
honestos.
Haviam ainda aqueles que por
não terem qualquer fonte de renda, usavam artifícios dos mais
espúrios para arrecadar numerário, e por vezes, nem com qualquer
idéia de fazer o cruzeiro volta ao mundo, apesar de colocarem
este. O objetivo era o viver nababescamente em seu veleiro em uma
Marina, escrevendo “teorias e solfejos”sobre o viver a bordo, ou
coisas correlatas e posarem de sabe tudo e por ai vai.
Haviam ainda aqueles que
navegavam o litoral brasileiro, e escreviam textos, como
“papagaios”sobre o desmistificar o cruzeiro à vela, não tendo nem
o pudor cultural e moral de criar algo, repetiam ipsis literis
palavras nossas, pensamentos e escritos, chegando às raias do
ridículo.
Na verdade metem tanto que
acabam acreditando que suas mentiras são verdades. E, obviamente,
o Sombra, tem que ser combatido, pois ele conhece, e conhece bem,
estes sibaritas náuticos desde quando iniciaram a manter contato
com eles e diariamente recebiam informações, apoios, ajuda, dicas
e etc.
Dentro de tal contexto, é de
fundamental importância que se coloque, e bem, que nossa intenção
sempre foi a de ajudar. Nunca nos passou pela mente receber
qualquer numerário neste mister, de auxiliar aqueles que desejam
fazer sua viagem.
Assim, em cada 100 auxiliados,
tão somente 5, aqueles que tratamos em texto anterior, serão
gratos e terão a palavra gratidão como norma. Os demais, a grande
maioria serão indiferentes, esquecerão rapidamente o mano
Sombra, e um reduzido numero se tornarão críticos contumazes e
inimigos ferrenhos. Não saberão nunca dar as mãos, alcançarem de
mãos dadas a Linha de Chegada, como o texto do preâmbulo apõe.
Temos tidos exemplos marcantes
e ate desgostos, sobre tal proceder, principalmente neste nosso
rápido retorno ao Brasil.
Vimos que as fogueiras das
vaidades e os crematórios das invejas são incomensuráveis,
diríamos ate uma aberração que virou moda no meio dos cruzeiristas
nacionais.
─ A gratidão deve se impor até
mesmo antes do recebimento da dádiva!!!
Esta tem sido a nossa máxima,
como é o nosso proceder em relação à REVISTA NÁUTICA, e por tal já
sofremos diversos ataques insidiosos e solapamentos. Mas
continuamos fieis ao nosso compromisso de gratidão a NÁUTICA e sua
equipe, capitaneada por nosso mano Ernani Paciornik e sua gentil
Almiranta Denise. Desta forma nos encerramos satisfeitos e como o
próprio Ernani coloca, termos sido o responsável pela abertura das
páginas da Revista novamente à vela de cruzeiro, aos cruzeiristas.
Hoje os tempos são outros de 10
anos passados, todavia ao se crescer em quantidade o numero de
velejadores de cruzeiro no Brasil, o proporcional de crescimento
não se houve também em qualidade, e coisas inimagináveis na falta
de educação, respeito e ética acabaram por se tornar o lugar
comum, neste segmento náutico brasileiro.
Assim, e por tal, tratamos de
cair fora e partirmos para a 2ª viagem, esta provavelmente e face
a nossa idade a derradeira e sem retorno a pátria querida que esta
se exaurindo dos seus últimos homens de bem.
Hoje até entendemos o porque do
grande cruzeirista brasileiro, para nós o maior deles, nosso
referencial Helio Setti, ter falecido vitima de um AVC,
provavelmente não se compatibilizou com a vida e o modo de viver
nas cidades, após sua viagem.
Sentimos isto de perto, em toda
sua plenitude!!!
Estimados irmãos e Almirantas,
vimos, vivenciamos, e fomos testemunhas de atos e ações
inacreditavelmente baixas e acabamos adotando o pensar de nos
defenestrar o mais rápido possível, utilizando a máxima do
velejador de cruzeiro;
─ Gostou fica, não gostou se
manda!!!
Por tais vistos é que acabamos
reduzindo o GG em 50% , onde hoje só se adentra por CONVITE
ESPECIAL, ou por conhecermos sobejamente o admitido. Diminuímos
nossos números de textos das 5as feiras, não temos escrito artigos
para Revistas, estamos nos afastando de entrevistas e somente
participando de projetos e atividades que visem tão somente o
crescimento da qualidade da vela de cruzeiro em nosso pais.
Vamos realizando nossa viagem e
provavelmente a partir de agora em solitário, após o retorno de
Atila ao Brasil e eventualmente teremos como tripulantes amigos,
irmãos e Almirantas que venham a fazer algum trecho da viagem.
Vamos indo em paz, com nosso
modo de pensar, tratando bem aqueles que assim agem conosco,
ignorando os ingratos, sibaritas e apedeutas, mas quando picados
respondemos no mesmo diapasão.
Chegamos ao ponto de termos
conhecimento, que pouco ou quase nada sabemos, e isto é notável,
pois nos leva a cada vez estudarmos mais para menos um pouco
deixarmos de ser ignorantes.
De resto é o viver intensamente
o dia como se fora o primeiro e a noite como se fora a ultima,
aproveitando esta oportunidade impar, a nós ofertada pelo Capitão
Lá de Cima, até que partamos para o cruzeiro definitivo.
Todavia, mais e sempre,
auxiliando e colaborando com aqueles que também desejam o mesmo
realizar e alcançando a Linha de Chegada de mãos dadas.
João Sombra
27 de Setembro de 2007
Ilha de Margarita