A BUROCRACIA
NO CRUZEIRO A VELA
Um dos aspectos de
nossa viagem que constantemente somos questionados, tanto no bom
relacionamento da internet, como eventualmente quando de nossas
estadas no Brasil, é exatamente este,
A BUROCRACIA,
ou seja, os tramites legais de entrada e saída em outros países.
Recentemente, quando
colocávamos o texto, CHÁ DE CRUZEIRISTAS, em nosso Grupo
Guardianboat, onde todas as 5as feiras apresentamos um escrito sobre
a viagem, ou ponto de vista sobre assunto correlato.
Nosso bom irmão Hugo
Luiz, o orgulhoso pai da Flor TALITA, nos questionava sobre este
aspecto:
― Como saber quais as
determinações e procedimentos legais para se adentrar a um pais???
Cada pais, difere do
outro, quanto a tais formalidades. E, ainda que sejam trocadas
informações entre os cruzeiristas, existe um livro que é fundamental
tê-lo a bordo, aqueles que desejarem fazer um cruzeiro a vela pelo
mundo. Trata-se do notável escrito de Jimmy Cornell, “WORLD CRUIZING
HANDBOOK”.
Neste memorável livro,
Cornell apresenta as formalidades, costumes, taxas, padrão
monetário, feriados, etc, de todos os países que se pode chegar por
mar. Alem disto, aborda os aspectos perigosos e dificuldades, entre
outros. Isto sob o ponto de vista, ou ótica, do velejador de
cruzeiro.
O outro livro do mesmo
autor, “WORLD CRUIZING ROUTES”, este já mais conhecido, ele
estabelece as melhores e mais utilizadas rotas, suas épocas, tempos,
distancias e as coordenadas dos portos. Alem disto faz diversas
outras considerações de fundamental importância.
Estes dois livros não
podem de forma alguma estarem ausentes na biblioteca de bordo do
velejador de cruzeiro, como alias comentamos e ainda apresentamos
outros títulos e Guias Náuticos em nosso livro, O GUARDIAN E A
BIBLIOTECA DE BORDO.
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Normalmente, três elementos são básicos quando chegamos de veleiro a
outro pais. O Customs, que trata dos aspectos alfandegários, a
Imigration, que analisa a documentação, dos tripulantes e da
embarcação, e finalmente a Quarentena, que fiscaliza os alimentos e
animais a bordo, e objetos que possam afetar a saúde do país.
Estes
procedimentos variam de um país para outro, alguns tem um só
elemento fazendo os três papeis, outros não. Todavia, estes são os
principais e básicos.
Alguns
exigem seja feito o visto de entrada com antecedência, como é o caso
dos EUA e Austrália, que ainda solicitam a comprovação de renda e
outros, criando as maiores dificuldades, motivo pelo qual, diversos
cruzeiristas evitam de estar nesses países.
Os EUA,
propositadamente, tem um serviço de Customs da pior qualidade quando
no trato com os cruzeiristas ou visitantes advindos da América do
Sul. A mal educação e a grosseria atinge a índice extremos e se
referem aos cruzeiristas latinos americanos como: “Macacos das
Republicas de Banana”.
Atualmente
e após os ataques terroristas as torres de Nova York, a coisa se
dificultou ainda mais e a grosseria decuplicou de proporções, agora
respaldada pelas medidas anti-terrorismo. Por vezes chega aos
limites do insuportável.
Nos países
considerados do 3* mundo, ou aqueles que há poucos anos se tornaram
independentes, a burocracia flui de forma rápida e sem grandes
aborrecimentos. Somente a fila e a espera, seriam os inconvenientes
maiores. Todavia, quando se apresenta o passaporte “Brasileiro”,
somos de imediatos diferenciados, com direito a atenção maior e
sorrisos, afinal somos do pais do futebol campeão do mundo 5 vezes,
do futebol arte e samba e da terra da alegria e das mulheres
bonitas.
A Austrália
vai cada vez e mais dificultando o processo de visto, criando normas
novas, fazendo “blitz” nos veleiros que chegam, de tal sorte, que
cada vez e mais diminui o numero de veleiros de cruzeiro visitantes
ao pais.
Um povo
simpático, alegre, amigo, similar ao brasileiro. Entretanto, seus
dirigentes estão transformando este belo país numa cópia mal feita
americana.
São
diversos os casos de veleiros de cruzeiro que tiveram problemas em
águas australianas.
Um outro
aspecto que vale ser citado, é quanto a visita ou não das
autoridades a bordo. Alguns países, estas vem ao veleiro. Outros, os
veleiros é que devem ir a elas. Assim, a fim de facilitar, as
autoridades se encontram instaladas em marinas ou Iates Clubes e tem
pier próprio. Em outros países como o caso do Brasil, tem que se ir
até as autoridades, por vezes muito distante do local de entrada.
Todos os países informam os portos e locais de
entrada e saída oficiais, onde devam ser feitos os papeis.
No caso de
saída do pais, existe a mesma burocracia, é fundamental faze-la,
pois se recebe um documento que deve ser apresentado
obrigatoriamente no próximo porto, ou porto de destino.
Alguns países
ainda exigem outro documento a bordo, denominado “CRUIZING PERMIT”,
como o próprio nome estabelece, é a permissão para navegar em águas
do pais visitado e especificados os locais que podem ser navegados.
A
burocracia é realmente sufocante e toda a atenção deve ser a ela
dispensada, pois o ferir qualquer determinação pode custar até a
perda do veleiro e prisão da tripulação. As irregularidades são
punidas de formas terríveis.
Aqui na
Ásia, como os países são muito próximos e as águas territoriais se
confundem, como por exemplo, Tailandia, Malásia, Singapura e Borneo,
a Indonésia é um caso a parte, não há tantos preciosismos.
Entretanto, é fundamental estar sempre com os papeis em dia para se
evitar aborrecimentos desagradáveis.
A Indonésia
colocamos ser um caso a parte, por exigir o visto de entrada
adiantado feito em outro pais. Alem disto ainda exige o Cruizing
Permit, e são dificultadores, sendo aconselhável sempre usar a
figura do despachante, que se paga um pouco mais, não muito, e vale
a pena. Enquanto ele trabalha e rápido, se fica no bar tomando a
cerveja gelada. A burocracia nestes casos é algo muito agradável.
Como os
despachantes já conhecem tudo e molham as mãos dos funcionários, com
agrados e até mesmo comissões, quando estes chegam de imediato tem
seus papeis prontos e de forma rápida.
Normalmente
nos países asiáticos que estão investindo fortunas no turismo, os
cruzeiristas internacionais representam a entrada de divisas no
país, e por tanto são muito bem tratados, como é o caso especifico
da Tailandia e Malásia.
Após o
atentado de Bali, a Indonésia vem sendo evitada pelos cruzeiristas,
estando poucos dias e somente na Marina de Bali, que é segura. Com
este nefasto acontecimento, mas que já era de se esperar, a
Tailandia e Malásia, se tornaram as grandes opções de visita,
principalmente este ultimo país citado, onde as vantagens concedidas
aos cruzeiristas são maiores que na Tailandia. Ainda existe a maior
vantagem de todas, que é ter a ilha de Langkawi como porto livre, o
que representa um notável centro de manutenção e compra de materiais
para o veleiro, pois os produtos estão isentos das taxas.
Além
deste grande fator de chamamento, a Malásia permite que o veleiro
fique em suas águas indefinidamente, só tendo a tripulação que se
ausentar do país a cada 90 dias, o que vale dizer pegar uma lancha
rápida ir a Tailandia e voltar, em exatamente uma hora.
Já os países árabes do
Mar Vermelho, face a guerra do Iraque, tiveram alguns de seus
aspectos modificados, no que tange a burocracia, não obstante, em
aspectos básicos permanece igual aos outros países. Cidadãos
americanos, ingleses e australianos, que se aliaram contra o Iraque,
sofrem tremendas dificuldades e o visitar estes países pode se
tornar perigoso, para eles.
Nós temos tomado a
precaução de termos sempre a popa do GUARDIAN a Bandeira do Brasil,
agora através de nosso fornecedor oficial e parceiro de viagem a
BANDERART. Além disto, nosso barquinho de apoio tem pintado em ambas
as bordas a bandeira do Brasil e quando saímos `a rua temos sempre
algum elemento identificador de sermos brasileiros. Isto é algo
notável, todos admiram nosso pais e os tratamentos que recebemos são
realmente diferenciados. Convites, estadas em marinas gratuitamente,
sermos apresentados ao Primeiro Ministro, enfim é realmente um
privilegio e uma honra ser brasileiro.
Na entrada
do Mar Vermelho, se advindo do Oceano Indico, desde a ilha de
Socrota até ao Porto de Aden, no Yemen, deve se navegar pelo meio,
afastados das margens, forma de evitar-se a pirataria por vezes
existentes nestas áreas. Estamos sendo informados que Dijiboute e
Yemen estão fazendo blitz relâmpagos e estes atos de piratarias
diminuíram consideravelmente. Todavia, se faz mister, quando se
navegar por estas águas o fazer em comboio, com 4 a 5 veleiros
juntos.
Quanto ao
velho mundo, a Europa, com o novo Mercado Comum, estamos sabedores
que algumas novas normas entraram em vigor, no que tange a veleiros
de cruzeiro. Assim, o melhor é visitar o site do Jimmy Cornell,
www.noonsite.com onde se encontra farto
material informativo sobre estas novas normas da burocracia na
Europa. Alem disto este site está sempre sendo atualizado o
que vale dizer as informações são atuais e precisas.
Exatamente
esta foi a idéia que tivemos em criarmos um Guia Náutico para o
Brasil, semelhante ao do Cornell, só que agregando cartas
digitalizadas e outras informações típicas de nosso litoral. Porem e
infelizmente, não foi entendido, outros copiaram a idéia e saíram
fazendo coisas atabalhoadas, a inveja gerou óbices terríveis e só um
reduzido numero de pessoas com visão de farol alto que se agregaram
a este trabalho.
Aos invés de
todos e unirem em prol de um trabalho de enorme fomento a náutica no
Brasil, as vaidades se sobrepujaram ao bom senso e cada um chuta
bola para um gol diferente.
Assim é a
burocracia de cruzeiro, que por vezes até entre nós velejadores,
camuflada ela está presente. O importante entretanto é estarmos
cientes que é coisa que não dura muito e logo estará sendo esquecida
e outros fatores bem mais agradáveis estarão sendo vividos pelos
cruzeiristas a vela.
João Sombra
Langkawi, setembro 2003
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